Inteligência artificial na educação e cultura

O avanço da inteligência artificial já não é apenas um tema de inovação tecnológica, mas uma questão central para educação, cultura e políticas públicas. No Brasil, o debate ganha força ao colocar a necessidade de reduzir desigualdades históricas. No 2º Seminário Internacional de Inteligência Artificial em Educação e Cultura, painel apontou que a IA pode tanto ampliar oportunidades de aprendizagem e inclusão quanto reforçar exclusões, caso não seja acompanhada de regulação, protocolos de proteção e letramento digital.

Para Virgílio Almeida, professor da UFMG e Harvard, pensar inteligência artificial é pensar em algoritmos e dados que influenciam diretamente as relações humanas. Ele lembrou que, em um país diverso, mas profundamente desigual como o Brasil, a aceleração tecnológica pode ampliar disparidades se não houver regulação clara. Estamos em um tempo em que decisões algorítmicas moldam até relacionamentos, e isso não pode ser visto apenas como avanço técnico, mas como desafio ético e social.

Agricultura e futuro alimentar

Essa visão dialoga com a fala de Thais Vieira, professora e diretora da ESALQ/USP, que trouxe o impacto da IA na agricultura e na segurança alimentar. Segundo ela, a emergência climática e a escassez de recursos hídricos exigem sistemas produtivos mais resilientes. A integração de dados climáticos, de solo e de produção, apoiada por aprendizado de máquina, pode ajudar na tomada de decisões estratégicas. “Consequentemente garantir o futuro da alimentação significa usar tecnologia para produzir mais com menos, sem perder de vista a saúde do planeta.

O debate também reforçou que as desigualdades digitais não se resumem a acesso a ferramentas, mas envolvem o modo como algoritmos operam. Giselle Santos, consultora pedagógica do Instituto Escolas Criativas, falou sobre essa perspectiva. Para a consultora, antes de celebrar ferramentas como o ChatGPT, é preciso discutir como filtros e sistemas de vigilância podem reforçar exclusões. Salientou que não devemos rejeitar a tecnologia, mas criar um repertório crítico, uma vez que pessoas informadas não têm medo de algoritmos e tem capacidade de dizer onde eles não devem interferir.

Educação e regulação como chaves para o futuro

O papel da IA no ensino também esteve em pauta. Enquanto algumas universidades, como a UFMG, já criaram regras para o uso da tecnologia em trabalhos acadêmicos, outros defendem maior autonomia dos docentes para decidir sobre seu uso em sala de aula. A preocupação comum, no entanto, é garantir que estudantes e professores tenham letramento em IA, entendendo as ferramentas de forma transparente e crítica.

Os painelistas convergiram em um ponto: inteligência artificial pode ampliar horizontes e acelerar o aprendizado, mas precisa ser acompanhada de políticas públicas e protocolos claros. Almeida reforçou a necessidade de alfabetização tecnológica desde cedo, como já ocorre em países europeus e asiáticos. As parcerias internacionais podem contribuir para soluções mais integradas, contudo é primordial a criação de redes de confiança para proteger crianças e adolescentes em ambientes digitais.

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