Digital Privacy Summit 2025

O Digital Privacy Summit 2025 abriu sua programação com um tema que está em todas as discussões: a relação entre inteligência artificial e governança de dados. Embora a IA esteja em alta, ainda há confusão entre automação avançada e inteligência genuína, e a construção de estruturas sólidas de governança se tornou prioridade para negócios e sociedade.

Para o advogado e professor Renato Opice Blum, sócio fundador do Opice Blum Advogados, é preciso separar percepção e realidade quando o assunto é IA. Hoje tudo virou inteligência artificial, mas na visão de Blum a maioria ainda é automação com mais potência. “As ferramentas de IA não são inteligentes, inteligência é uma prerrogativa humana. As ferramentas enxergam bits e fazem inferências”, alertou. Nos modelos de linguagem (LLMs, SLMs) não temos pleno controle do que vai sair de resposta, o que cria um desafio permanente de regulação. E para além da regulação, também um debate ético sobre usos críticos, como na saúde ou em atendimentos terapêuticos, precisa ganhar força.

Na mesma linha, Livia Wanderley, gerente de Privacidade e Ética de Dados do Itaú, destacou que a governança de IA deve ser vista como extensão das diversas governanças já existentes, como de fornecedores e privacidade de dados. Ela explicou que o banco estruturou um modelo que combina políticas, práticas, processos, métricas e cultura organizacional para a governança de IA. Com mais de 600 casos de uso em ação, há um acompanhamento por um comitê específico, além de controles e guias de ética para uso de IA.

A descentralização também é importante, uma vez que todos os times e todos os níveis hierárquicos podem criar casos de uso, e assim fica mais fácil de descobrir as aplicações úteis para o dia a dia. Livia trouxe a importância de parcerias com universidades para avançar no aprimoramento do uso de IA e frisou que a questão cultural deve ser abordada com programas de capacitação para ampliar o conhecimento sobre a tecnologia, tanto da liderança quanto do time.

Eu sou humano

Na internet é difícil decifrar o que é humano do que é digital, e Anna Carvalhido, líder de Políticas Públicas da Tools for Humanity Brasil, comentou sobre a credencial desenvolvida pela empresa para distinguir humanos de sistemas automatizados. Segundo estudo citado por ela, hoje cerca de 51% do tráfego na internet é feito por robôs, sendo que 37% deles são usados para ataques cibernéticos. Provar que é humano se tornou parte da governança digital e um ponto importante na segurança cibernética, que inclusive é uma sugestão do projeto de lei que trata da IA (como uma marca d´água para distinção entre digital e humano).

A solução comentada por Anna utiliza biometria facial e da íris para gerar um código binário exclusivo, armazenado no celular do usuário, em modelo de auto custódia de dados, fortalecendo a autonomia e a transparência, um passo no caminho de separar e validar as interações humanas online. No ambiente online, há a preocupação pela ótica de conteúdo (quem criou/produziu) e pela ótica de comportamento (quem está compartilhando). Anna cita um exemplo: “um perfil automatizado que informa temperatura não parece problema, mas se você estiver numa rede social para falar sobre um hobby, vai querer interagir com uma pessoa”.

Legislação

O avanço regulatório no Brasil também foi abordado no painel, uma vez que o projeto de lei está em fase avançada. Lívia pontuou que o projeto de lei de IA consolidou princípios éticos como transparência, explicação e centralidade no ser humano, além de ter aglutinado outros projetos que estavam em análise. Um ponto relevante é que o projeto em andamento ajusta sobreposições e avita conflito entre reguladores. Para Blum, a principal dificuldade será a capacidade da legislação acompanhar a velocidade da evolução tecnológica. Ele aponta que a estipulação de um regulador ajuda na agilidade e que se for desmembrado em reguladores setoriais será mais robusto. Blum finalizou com um indicativo de como devemos seguir: “o modelo de ia deve ser ético e atender aos anseios humanos”.

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