Tecnologia, bioenergia e rastreabilidade estão fortelecendo a transformação da sustentabilidade no Brasil, de acordo com as conversas no terceiro Agro do Futuro. O país avança em impacto social positivo e nas ações para redução de emissões de carbono

Marcus Thieme, CEO da Caramuru Alimentos, destacou o papel do biodiesel na transformação do setor e no fortalecimento da agricultura familiar. Ele destaca que o biodiesel tem um aspecto social relevante e que mais de 1.500 pequenos produtores participam da cadeia de fornecedores. Um processo que gera renda, desenvolvimento regional e descarbonização: “quando a gente olha para essa cadeia é muito integrada. Do biodiesel tem tido uma evolução muito boa”, afirmou.

Hoje, o Brasil está no B15 (15% de biodiesel), mas há expectativa de chegar ao B20 nos próximos anos. Thieme defende que avanços regulatórios são necessários para ampliar a mistura de biodiesel no diesel fóssil. “A Indonésia tem já 40% de biodiesel no diesel. Por que que no Brasil, onde a gente é super competitivo no etanol, a gente não aumenta a nossa mistura? Porque tecnologia tem, eu acho que falta talvez um pouco mais de incentivo”, completou.

Thieme também alertou para a necessidade de agroindustrialização, que gera valor agregado e empregos. Citou o exemplo da soja brasileira que apenas cerca de 33% é processada internamente, enquanto nos Estados Unidos esse índice chega a 60% e na Argentina ultrapassa 90%.

Rastreabilidade em alta

A evolução da rastreabilidade socioambiental nas cadeias do agro tem evoluído grandemente. Hoje, já é possível acompanhar em tempo real a origem dos grãos e derivados usados na alimentação animal, assegurando que cada elo da produção esteja em conformidade com critérios ambientais e sociais. Gilson Ross, CPO Global da BRF, ressaltou o impacto da tecnologia na integração de mais de 11 mil famílias de produtores rurais à cadeia da empresa. Segundo ele, a companhia alcançou 100% de rastreabilidade socioambiental de grãos e derivados usados em rações, de forma auditável, apoiada por inteligência artificial e monitoramento em tempo real.

“Hoje nós garantimos a rastreabilidade efetiva, com sistemas, com tecnologia, tem um Smart Center em Curitiba onde nós monitoramos todas as propriedades parceiras da companhia. A gente consegue emitir extratos socioambientais em 2 minutos”, explicou.

Além do controle, a empresa utiliza ferramentas para apoiar produtores a se adequarem a critérios socioambientais, em vez de excluí-los da cadeia. Ross falou sobre o mapeamento de riscos via satélite e com esses dados direcionar os produtores, conseguindo ajudar o quem ainda não atende os critérios: “sustentabilidade financeira é super importante, e foi facilitada pelas tecnologias, que nos permite então hoje estar num patamar como esse”.

Convergência entre tecnologia e floresta

A discussão também trouxe a mineração para o centro do debate, mostrando pontos de convergência entre os dois setores. Grazielle Parenti, VP Executiva de Sustentabilidade da Vale, destacou que tanto agro quanto mineração compartilham liderança global, são fortemente tecnológicos e tem presença em regiões remotas, onde o impacto socioeconômico é determinante para as comunidades locais.

“Quem tá de fora, tanto do agro quanto da mineração, acha que são atividades primárias, simples, mas não são” afirma Grazielle, citando por exemplo os imensos caminhões usados nas minas, alguns deles autônomos controlados por inteligência artificial. Já a questão ambiental é um tema sensível para qualquer mineradora, e a Vale tem metas de redução de emissões em toda a sua cadeia de valor, abrangendo os escopos 1, 2 e 3. Além disso a companhia protege atualmente 1,1 milhão de hectares de áreas ambientais no Brasil (o equivalente a quase o dobro da cidade de São Paulo). Desse total, 800 mil hectares estão no mosaico de Carajás, no Pará.

A executiva também destacou que a sustentabilidade deve ser entendida em 3 dimensões, que é ambiental, social e também financeira, Ela aponta que “as minas tem um tempo de vida longo, faz muito sentido pra gente desenvolver a economia local. Então a gente está falando de bioeconomia, porque a gente está inserido em lugares de muita floresta, mas também da pequena agricultura”.

Bioenergia

O etanol de milho vem ganhando cada vez mais espaço na agenda da transição energética. Rafael Abud, CEO da FS, apresentou que a empresa opera três usinas no Mato Grosso e constrói uma quarta, transformando milho em etanol, ração animal e CO2 biogênico.

O próximo passo é um projeto inédito de captura e estocagem de carbono com a tecnologia CCS, que deve armazenar permanentemente 423 mil toneladas de CO2 por ano no subsolo. “Essa é uma tecnologia que eu diria que é basicamente explorar petróleo ao contrário, pois em vez de você remover carbono do subsolo, você está injetando e estocando ele de volta, permanentemente”, explicou.

Atualmente o milho de segunda safra brasileiro é reconhecido como a matéria-prima de menor pegada de carbono para produção do SAF (combustível de aviação sustentável), reforçando a capacidade do Brasil de liderar biocombustíveis mundialmente. Abud enfatizou essa capacidade citando que “como setor coletivamente, cana e milho representam 57% do combustível consumido no país, com menos de 1% da área plantada, não vinculada ao desmatamento e com rastreabilidade comprovada”.

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