
O mundo está deixando escapar uma das soluções mais eficazes para a crise global da água. Um relatório do Banco Mundial, “Scaling Water Reuse: A Tipping Point for Municipal and Industrial Use”, publicado em junho de 2025, revela que apenas 3% da água consumida por cidades e indústrias provém de reuso potável e industrial. Isso significa que 97% da água que poderia ser reaproveitada acaba perdida, enquanto bilhões de pessoas enfrentam risco crescente de desabastecimento.
Segundo o estudo, cidades e indústrias geram quase 1 bilhão de metros cúbicos de água usada diariamente, grande parte lançada sem tratamento em rios, lagos e aquíferos. Essa prática não apenas agrava a poluição e compromete ecossistemas, como intensifica a escassez em um contexto de urbanização acelerada e mudanças climáticas. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas urbanas com risco hídrico, e até 2050, 70% da população mundial estará concentrada em cidades, elevando a competição por esse recurso essencial.
Reuso como alternativa viável
O Banco Mundial aponta que a expansão do reuso é um caminho viável para enfrentar o desafio. Estimativas indicam que investimentos entre US$ 170 bilhões e US$ 340 bilhões nos próximos 15 anos poderiam multiplicar por oito a capacidade instalada de tratamento, elevando a participação do reuso no abastecimento municipal de 3% para 25% até 2040. Essa alternativa, além de mais econômica que a dessalinização, oferece um “seguro” contra os impactos da crise climática.
Cada metro cúbico de água reaproveitada gera benefícios múltiplos: recuperação de água limpa, energia e nutrientes valiosos, além de menor impacto ambiental, com redução da extração de mananciais e da poluição lançada nos ecossistemas.
O estudo destaca experiências bem-sucedidas em países como Cingapura, Estados Unidos e África do Sul, onde o reuso já é aplicado em larga escala. O Brasil também aparece como referência, com a iniciativa da Aquapolo Ambiental, que fornece água de reuso para o Polo Petroquímico do ABC, na Região Metropolitana de São Paulo. Considerado o maior projeto de reuso industrial do Hemisfério Sul, o empreendimento comprova que a tecnologia é segura e economicamente viável.
“Não estamos falando de uma escolha para o futuro, mas de uma necessidade imediata. O estudo mostra que insistir no modelo atual é insustentável. No Brasil, já provamos que é viável reaproveitar água em escala industrial. Agora, precisamos acelerar e replicar esse modelo em larga escala, ou o custo será a própria segurança hídrica da população”, disse em comunicado Márcio José, CEO da Aquapolo Ambiental.
O estudo completo (em inglês) pode ser obtido neste link.
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