
A cibersegurança foi tratada como pauta de soberania durante o ABES Summit 2025, que reuniu especialistas de diferentes setores para discutir como transformar a proteção digital em um pilar estratégico, e não apenas reativo nas organizações. Também foi abordada a integração entre regulação, pesquisa, educação e colaboração para fortalecer a resiliência digital.
A conversa trouxe o ponto de que a segurança digital não pode mais ser vista como um tema isolado de tecnologia. Quando falamos de geopolítica e soberania, falamos também de cibersegurança e um grande desafio é consolidar a segurança da informação como um componente de continuidade de negócios e sustentabilidade corporativa. Importante lembrar que este eixo impacta diretamente a confiança digital e a competitividade das empresas.
Para Andréa Thomé, Head do Conselho da WOMCY, o atual cenário global representa uma crise cibernética em expansão. A executiva alertou para a sofisticação dos ataques, cada vez mais direcionados a APIs e cadeias de fornecedores, e reforçou que a defesa isolada é ineficaz. “Pensando nessa colaboração global e saindo dessa visão de silos, precisamos usar essa inteligência, pelo menos até a cadeia de fornecedores como um todo. Pensar nos meus pares como indústria, com um conceito de confiança mútua”, afirmou. Ela citou o projeto Guardião Cibernético, coordenado pelo Exército Brasileiro, como exemplo de cooperação público-privada, mas ressaltou que o avanço ainda é limitado.
Educação digital, pesquisa e cooperação
Na visão de Claudio Martinelli, Diretor-executivo para as Américas da Kaspersky, segurança digital é uma construção contínua baseada em três pilares: educação, inteligência e soluções eficazes. De forma ilustrativa, o executivo demonstrou como simples descuidos, como conectar-se a redes Wi-Fi falsas, podem comprometer dados corporativos. Ele frisou que segurança digital não se compra, se constrói com práticas, não com mitos tecnológicos.
Martinelli também destacou o papel da colaboração multissetorial, lembrando que o criminoso digital conversa, negocia e compartilha informações: “a gente conhece o C2C, criminal to criminal. Eles fazem negócios cada vez mais subsidiados, financiados pelo crime organizado. Precisamos estar bem preparados para isso com educação, inteligência e boas soluções”.
A soberania tecnológica é um debate que tem aparecido cada vez mais nas conversas, e para Georgia Barbosa, Gestora do CISSA|CESAR, o Brasil ainda atua de forma reativa diante das ameaças, o que impede o país de antecipar riscos e desenvolver soluções próprias. Ela explica que cibersegurança não é um tem trivial e justamente por isso defende a necessidade de pesquisa aplicada: “é preciso trazer novas soluções, contribuição tecnológica para cá, para o nosso país. Esse olhar da pesquisa, ele não deve ser subestimado. Do contrário, a gente sempre vai estar um passo atrás”. A especialista também reforçou a importância do conceito secure by design, especialmente diante da rápida adoção de inteligência artificial em produtos e serviços.
Cibersegurança preventiva

Na dimensão jurídica, Caio Lima, advogado sócio do escritório VLKLaw e professor da Poli-USP, destacou que a LGPD já consolida a segurança da informação como direito fundamental. Ele lembrou que recentes decisões do STJ reforçam a obrigação das empresas em adotar a melhor tecnologia disponível para proteger dados pessoais, de forma proativa. “Não adianta mais a gente ter qualquer segurança da informação, a gente tem que ter a melhor segurança da informação que já foi testada e de acordo com a tecnologia, de acordo com o momento de tratamento dos dados”, explicou.
Segundo Lima, a segurança precisa ser preventiva: “proativamente, as empresas devem ter medidas de segurança que são esperadas pelos usuários já funcionando antes de qualquer incidente acontecer. Ter governança, software, ter educação, retreinamentos, tudo isso já é uma expectativa e já é uma obrigação”. O advogado também mencionou um projeto de lei que iniciou tramitação no Senado que propõe a criação de uma autoridade nacional de cibersegurança, voltada à coordenação e troca de informações entre setores.
No encerramento da conversa, Martinelli destacou que educação e ética digital são a base da transformação cultural necessária. Ele lembrou que os riscos não vêm apenas de hackers, mas também do uso indevido de tecnologias por profissionais desatentos. A orientação do executivo para o mundo corporativo foi clara: “se preocupe com a formação dos seus profissionais em usar tecnologias emergentes de forma ética e responsável. Você não pega o carro com 18 anos sem passar pela autoescola, você tem que passar pela autoescola da inteligência artificial”.






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