
O debate sobre a emergência climática ultrapassou há muito tempo a esfera puramente moral ou científica para se firmar como uma urgência econômica e geopolítica. Embora o clima seja um problema moral, resultando em sofrimento, e a ciência claramente demonstre que a prosperidade está ameaçada, a humanidade ainda não age de forma eficaz. A verdade inconveniente é que o crescimento global do Produto Interno Bruto (PIB) está globalmente sob ameaça em um cenário de aumento de risco climático. Assim, se apenas a moral não bastava para convencer pessoas e empresas da urgência, agora, com o risco iminente para perdas financeiras, talvez a conscientização aumente.
Não à toa, uma nova onda de climate tech (aquelas startups voltadas para resolver questões climáticas a partir do uso da tecnologia) está sendo redefinida não apenas pelo que é “verde”, mas pelo que é economicamente sustentável. Pelo menos foi o que pareceu durante o Climate Summit, evento paralelo ao Slush 2025, em Helsinque. Pensar em tecnologia climática, de acordo com Sebastian Heitmann, cofundador da Extantia, e Tom Hubregtsen, CEO da Voltrac, significa olhar para a competitividade futura e o “crescimento para o bem”.
Alinhamento climático como competitividade
Heitmann aponta que a realidade é que muitos casos de climate tech “simplesmente não estão com foco econômico” e não apresentam um plano de negócio que seja convincente. Contudo, ele observa forças convergentes que estão mudando essa dinâmica.
Historicamente, as preocupações com a segurança e a soberania – não apenas o ambientalismo – impulsionaram a transição energética mais rapidamente do que as preocupações climáticas. A soberania é definida como uma combinação de fatores: ser custo-eficiente, ser tipicamente local e ser sustentável (no sentido original da palavra: ser capaz de repetir o processo continuamente).
A velocidade na construção de fontes de energia tem se mostrado crucial. Se o mercado otimiza para a velocidade, ele tende a resolver também a resiliência, a viabilidade ecológica e, crucialmente, a viabilidade econômica. Heitmann cita a Lei de Wright, que demonstra que o escalonamento de uma tecnologia (duplicando a sua magnitude) leva a uma redução de custos de aproximadamente 70%. Essa lógica está em ação, fazendo com que tecnologias como baterias e energia solar sejam implementadas em grandes quantidades.
O setor está amadurecendo, e o mercado financeiro já reconhece a oportunidade. Há um forte aumento nos fundos levantados em climate tech, uma demonstração de que o mercado financeiro entendeu que há uma oportunidade de negócio.
Caso Voltrac

A Voltrac, liderada por Tom Hubregtsen, fabrica veículos avançados para agricultura. Para o CEO, o produto final deles exemplifica como a inovação e o design radical tornam a sustentabilidade economicamente atrativa. Trata-se de um veículo de alta tecnologia, autônomo, elétrico e com poucos componentes em sua composição.
Hubregtsen enfatiza que o sucesso não depende apenas de construir algo “climático”, mas de ter um plano de negócio apropriado, que demonstre que seja sustentável do ponto de vista da natureza, mas também sustentável do lado econômico. A Voltrac conseguiu atrair investimentos porque abordou o mercado de forma diferente: em vez de construir algo complexo e caro, eles estão vencendo os concorrentes pelo preço por cavalo de potência.
Essa viabilidade é construída na arquitetura do produto:
- Redução de componentes: o veículo da fabricante utiliza 70% menos componentes. Isso reduz o material necessário, melhora a reparabilidade, diminui a manutenção exigida e facilita a fabricação.
- Solução de infraestrutura: ao notar que os clientes estavam abertos à eletrificação, mas preocupados com as horas de operação, a Voltrac triplicou a capacidade da bateria em relação aos concorrentes, graças ao espaço liberado pela remoção de componentes. Implementaram baterias trocáveis, permitindo que os agricultores mantenham a operação contínua, trocando as baterias no mesmo momento em que precisam reabastecer produtos químicos ou fertilizantes.
Além disso, a empresa transforma a redução de emissões em um novo modelo de receita. Ao monitorar as plantações diariamente, a empresa permite um tratamento preciso, atacando os aspectos mais poluentes e mais caros da fazenda (químicos e fertilizantes). Esse foco em automação e tratamento de culturas pode, quando implementado corretamente, triplicar o mercado dos agricultores, criando um sistema de dois pilares: veículos e serviços.
Na visão de Hubregtsen, “a climate tech do futuro não será motivada apenas por conformidade ou regulamentação, mas pela necessidade de competitividade futura”. A adoção da tecnologia climática está sendo acelerada por novas forças – como a segurança e a economia – que estão alinhadas, e não sobrepostas, à agenda climática.






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