Erick Galante, Afgitec

Nanotecnologia parece ganhar novo impulso, pese desafios ainda existentes de financiamento e adaptação da indústria nacional para uso dos materiais. O assunto esteve em evidência em diversos conteúdos apresentados durante o Gramado Summit 2025, como na fala de Erick Galante, chefe da Agência de Gestão e Inovação Tecnológica do Exército Brasileiro (Agitec), para quem o país precisa ter protagonismo nesta área. 

“Nenhum país consegue soberania sem ciência e inovação”, apostou Galante ao defender os investimentos em inovação dentro das forças armadas. Ele passou por diversos fatos históricos, como vinda da família real portuguesa ao Brasil ou mesmo a Guerra do Paraguai, e como inovações de defesa foram fundamentais e, posteriormente, beneficiaram a população. Na Guerra do Paraguai, por exemplo, o uso do balão apontou para o quão estratégico era a ocupação do espaço aéreo, isso mesmo antes do histórico voo de Santos Dumont. 

“Se temos modal de estradas, é porque Império Romano precisava que tropas que marchavam recebessem comida mais rapidamente”, relembrou. A defesa de Galante faz sentido, já que países como Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França apostam na inovação que vem das forças armadas, como no caso do desenvolvimento de radares nacionais, algo que o Brasil, via Exército, também desenvolveu o seu. Tecnologias do dia a dia, vale lembrar, como componentes hoje existentes em smartphones, tiveram seu início na engenharia de defesa.

Do portfólio atual do Exército Brasileiro, Galante contabiliza, além do radar, visão termal, blindado, trabalhos com nanopartículas de nióbio. Tudo isso, defende o chefe da Agitec, é parte do trabalho para garantir soberania nacional. “Hoje são 256 patentes que se convertem em 256 chances de negócios, vamos licenciar para alguém. A máscara com partícula de cobre (apresentada na pandemia) está aí, tecnologia com nióbio também”.

O trabalho da Agitec envolve ações com diversas agências das Forças Armadas, mas também parcerias e alianças com universidades e entidades como Fiesc, Firjan e parques tecnológicos como o de São José dos Campos (SP). A bola da vez, no entanto, reforça Galante, é a nanotecnologia. “Em um avião militar tem siderurgia, têxtil, computação, hardware, software e, no futuro, nanotecnologia. Trabalhamos com 4 eixos olhando para o futuro. Temos de fomentar as nanopartículas e o Brasil precisa assumir protagonismo na área.”

Desenhando futuro

A fala de Erick Galante ressoa em outro painel focado 100% em nanotecnologia, que promoveu uma discussão olhando o futuro do tema. Muito embora seja verdade, como lembrou Carlos Bergmann, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que nós já convivemos com as nanopartículas, como no caso do protetor solar, existe uma avenida a ser explorada. Para isso, precisamos suplantar alguns desafios, como o de financiamento de novas pesquisas, algo que Galante busca via Agitec, e preparar a indústria nacional para manipular esse tipo de material. 

“Com as nanopartículas conseguimos atualmente criar materiais com propriedades diferentes, extremamente funcionais para aplicações tecnológicas”, ensinou Bergmann. Ele fez uma comparação com a natureza, usou mosquito que pesa centésimo de grama e tem toda uma estrutura de sensores, é nanotecnologia da natureza.

Professor Bergmann, UFRGS

A possibilidade de aplicação dessa tecnologia, como exemplificou Bergmann, é da mais variada, como embalagens inteligentes, filme de PVC com sensores que detectam gases, tecidos para curativos inteligentes para pessoas diabéticas ou mesmo partículas que fazem degradação com a luz solar de produtos químicos e podem ser usadas em desastres ambientais. 

“É possível aplicar nanopartículas em materiais cerâmicos, plásticos, elétricos e até biológicos, nas mais variadas indústrias como metal mecânica, têxtil, agroindústria, cosmética, semicondutores. Em nanoescala, os materiais ganham superpoderes, pequena escala, propriedade extraordinária. Pode-se usar para melhorar a capacidade de baterias, para descarbonização, catalisador para produção de hidrogênio a partir de metano ou etanol com 3 vezes mais eficiência”, complementou Adriano Feil, CTO da BlueNano.

Garantir o protagonismo desejado por Galante e ampliar as aplicações como exemplifica Bergmann, no entanto, pede derrubar algumas barreiras, como explicou Thuany Maraschin, coordenadora da Rede Nano RS. “Há desafios para o desenvolvimento da nanotecnologia no Brasil como: o volume de produção e seus custos, o controle da qualidade do material final, que precisa ser puro, a aplicabilidade que ainda não é tão difundida. Apesar disso, o Brasil é um dos maiores geradores de patentes em nanotecnologia.”

Sem comentários registrados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *