
Assim como alguns anos atrás se dizia que todo negócio seria um negócio de tecnologia pelo avanço da digitalização e diversas tecnologias emergentes, o mesmo se diz atualmente a respeito das mudanças climáticas. Temas como aquecimento global, crise hídrica, aumento de desastres como enchentes e incêndios (a exemplo do Rio Grande do Sul, em 2024, e Los Angeles, neste início de ano), transição energética, precisam estar na agenda de todo CEO sob risco de obsolescência do negócio. A urgência integra o último relatório The Cost of Inaction: A CEO Guide do Navigating Climate Risk, produzido pelo Fórum Econômico Mundial.
A instituição reconhece que os riscos climáticos já afetam negócios direta ou indiretamente e entende que danos materiais serão mais frequentes. Pelo andar da carruagem, as empresas ficam mais expostas a problemas que se somam a baixo crescimento global e riscos físicos individuais que ameaçam cadeias de suprimento e operações de forma geral. Para negócios despreparados, os riscos físicos podem comprometer até 25% do EBITDA em 2050, tudo isso a depender do setor, sendo o de indústria pesada o mais comprometido.
O relatório lembra que após anos de avanço, tem sido observada uma resistência cada vez maior às ações contra mudança climática, o que pode comprometer ainda mais o futuro de uma série de negócios e, obviamente, do planeta. Por outro lado, o texto lembra que, como a emergência climática afeta a vida e a saúde das pessoas, assim como coloca empresas em sérios riscos, apostar no status quo não resolverá nada, fazendo com que as corporações se preparem para novas rodadas de investimentos.
Recomendações
Apesar de discussões acaloradas e um possível aumento da resistência, existem bons casos que mostram que investir em ações em prol do clima deixa sua empresa adaptada e resiliente. De acordo com o levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial, para cada dólar investidos, companhias relatam retornos entre US$ 2 e US$ 19 dólares.
Com riscos crescentes e ROI comprovado, o relatório recomenda que as empresas mudem a maneira como gerenciam riscos e oportunidades climáticas e deixa recomendações como:
- Inserir o tema riscos e oportunidades climáticas na estratégia da empresa;
- Preparar seus negócios para um aumento de temperatura na ordem de 3ºC e aceleração do processo de descarbonização;
- Elaborar planos de transição e resiliência climática para gerenciar os riscos;
- Alocação de capital deve contemplar estratégia de risco climático, balanceando lucros de curto prazo e resiliência no longo prazo;
- Fazer com que gestão de risco climático entre na rotina de todos os funcionários.
E o Brasil?
Com um cenário crítico globalmente e podendo liderar esse debate de forma mais consistente, o Brasil parece ainda não ter se despertado. Mesmo com pesquisas apontando que o País é um dos que mais deve sofrer os efeitos da mudança climática, a maior parte das empresas parece não ter entendido a gravidade.
Em evento on-line realizado pela Deloitte, em dezembro, Gabriela Blanchet, coordenadora do Chapter Zero, iniciativa do Fórum Econômico Mundial hospedada no Brasil pelo IBGC, afirmou que não se pode discutir sistema de integridade sem entender grandes demandas da sociedade, como sociais e climáticas. Esses temas precisam, de alguma maneira, integrar as pautas estratégicas das organizações e estarem no calendário da alta gestão. O recado principal é de que não adiantam ações pontuais para algo dessa magnitude.
E o pior, a maioria ainda não despertou para a urgência. “É importante saber onde a gente está. Quando perguntamos a conselheiros de diversos países sobre questões climáticas, Brasil e EUA tem menor percepção de prioridade na incorporação de questões climáticas na agenda dos conselhos”, pontuou Gabriela, que também é sócia do Blanchet Advogados. “Quando falamos sobre planos de transição, percebemos que, na Europa, 37% responderam que tinham, na Ásia-Pacífico, o número chegou a 42%. Nas Américas, cai para 24% e, no Brasil, 15%, o mais baixo dos países pesquisados.”
Outros números apresentados pela especialistas foram: 42% dos respondentes disseram não levar questões climáticas para discussões de conselhos e comitês; 36% dos conselheiros indicam que clima não está na agenda de risco ou estratégica do negócio. “Quando a gente faz recorte olhando para conselhos das empresas brasileiras, tem muito trabalho. Os dados têm melhorado, começamos isso na Cop de Dubai, mas (o trabalho) não está na velocidade necessária”
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Acesse o material do Fórum Econômico Mundial, em inglês, aqui.
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