
A sustentabilidade no agro brasileiro vem se tornando estratégica e durante o 3º Agro do Futuro, evento realizado em São Paulo, foram discutidas práticas, desafios e soluções para tornar a produção mais regenerativa e de baixo carbono.
Com uma previsão de que até 2050 o mundo atinja a marca de 10,5 bilhões de pessoas, Bárbara Sollero, head de Agricultura Regenerativa da Nestlé, ressaltou a necessidade de soluções em escala para atender a crescente demanda por alimentos. Ela também cita que a empresa já vem ajustando suas ações e busca “garantir a compra de 20% das nossas principais matérias-primas globalmente vindo de áreas que implementam a agricultura regenerativa”.
No Brasil, onde 70% das emissões da companhia estão relacionadas aos ingredientes, leite, café e cacau concentram o maior foco das ações. Os programas de sustentabilidade englobam capacitação de produtores, melhoria de produtividade, direitos humanos e rastreabilidade. Em mais de 10 anos, cerca de 10 mil agricultores já participaram das iniciativas, que preservam mais de 340 mil hectares. “Em 2024, 41% do volume dessas principais matérias-primas já vem de fazendas implementando essas práticas de agricultura regenerativa”, afirmou Bárbara, reforçando que parcerias estratégicas são essenciais para ampliar o impacto.
Transformação de áreas degradadas
Claudia Veiga Jardim, gerente de Sustentabilidade Corporativa da Syngenta, apresentou o programa Revert, voltado para converter áreas degradadas em produção agrícola sustentável. Desde 2021, o projeto já atingiu 265 mil hectares em mais de 300 fazendas, com investimentos superiores a R$ 2 bilhões. Além de recuperação de solo, melhoraria de biodiversidade e aumento do estoque de carbono, o programa gera ganhos financeiros aos produtores, valorizando a terra e aumentando produtividade. O programa da Syngenta é considerado o maior do gênero liderado pela iniciativa privada. no Brasil.
“A gente tem um desafio de chegar a 1 milhão de hectares até 2030. Então esse é o nosso compromisso, a gente está olhando para novas culturas, pensando em diversificação. Mas também estamos olhando para modelos de financiamento” revelou Claudia, afirmando que há intenção de expansão internacional do modelo.
Embora a matriz elétrica brasileira seja majoritariamente limpa, a demanda térmica da indústria ainda depende de combustíveis fósseis. Carlos Martins Simões Jr, COO da Combio Energia, alertou para a necessidade de acelerar a descarbonização da matriz térmica pois “tem muito combustível fóssil sendo queimado, estou falando de diesel, de GLP, de gás natural e por incrível que pareça, ainda tem gente usando lenha e carvão”.
Simões explicou que esta demanda da indústria por energia térmica responde pela emissão de 150 milhões de toneladas de CO2 todos os anos, o que equivale a 10 anos de emissões da cidade de São Paulo. Para ele, é necessário repensar os modelos de negócio e criar parcerias para acelerar a descarbonização, reduzir custos e ampliar soluções de energia limpa.
Olhar do consumidor
A percepção do consumidor sobre a sustentabilidade também vem mudando e Bárbara ressaltou que engajar o público envolve educação e comunicação direta. “O desafio de educação, ele não é só da educação e sensibilização do campo, mas é também do consumidor, para entender o que é agricultura regenerativa, carbono, solo. Como a gente vai conseguir letrar esse consumidor para que ele perceba esse valor”, ela destacou.
Ações como estampar produtores em embalagens dos produtos mostrando as histórias que estão por trás do produto final e até mesmo jogos atrelados à agricultura regenerativa, auxiliam a criar conexão entre origem e consumidor, incentivando os consumidores a preferirem produtos com uma cadeia produtiva de baixo carbono.
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