A indústria da moda é uma das mais poluentes. Dados da McKinsey apontam que, atualmente, o setor emite, por ano, a mesma quantidade de gases de efeito estufa que a soma das economias de França, Alemanha e Reino Unido. Só para se ter uma ideia do problema, para atender aos anseios do Acordo de Paris, o mundo fashion precisaria cortar metade das emissões até 2030, mas parece que pouco tem sido feito para dar conta da meta. Práticas sustentáveis, economia circular, revenda de peças e campanhas de consumo consciente estão entre as táticas para amenizar o problema. E da região metropolitana de Belo Horizonte (MG), mais especificamente de Lagoa Santa, vem um exemplo de como é possível pensar futuros diferentes.

Fundada em 2016 por Arthur Bruk, hoje com 26 anos, a Bruk começou sua trajetória como uma marca de peças tradicionais. A mãe de Bruk é costureira e ele entrou no ramo, inicialmente, com oferta de pecas sob medida. Mas no meio do caminho ele foi fisgado pelo mundo da sustentabilidade e iniciou a transição da marca, saindo de um canal de roupas tradicionais, para uma marca e um projeto sustentáveis. “Reconhecemos a problemática que existe na indústria da moda e buscamos alternativas que é produzir com coisas que já existem”, afirmou em entrevista ao Coletivo Tech

O objetivo passou a ser a produção de acessórios de moda com materiais reaproveitados. Câmaras de ar, colchões infláveis, cintos de segurança. Materiais que são muitas vezes descartados até de forma incorreta, que geram outros problemas para o meio ambiente, se tornam insumo para os produtos da Bruk. O que antes era um dejeto, se transforma em bolsas e carteiras. A loja possui ainda camisetas e bonés, tudo feito a partir de algodão orgânico ou fios reciclados. 

O fundador da marca lembra que produzir a partir desses materiais não é uma ideia super nova, mas na maior parte das vezes, as iniciativas se perdiam no tempo, como ele mesmo ouviu de diversos profissionais que o procuravam para conhecer o negócio. “Existem outras marcas que produzem além da Bruk, mas nosso diferencial está na maneira como comunicamos a produção e como fazemos esses produtos de materiais reaproveitados.” 

Com mais de 400 mil seguidores, o canal da marca no Instagram é um exemplo de como o discurso faz parte da estratégia. Além de promover os acessórios e mostrar o processo produtivo, o espaço é utilizado para passar dicas de consumo consciente, alertar para a necessidade de reciclar as coisas ou mesmo de descartar objetos de forma correta. Tudo feito de forma leve e até com uma pitada de humor. Em post recente, por exemplo, o fundador dava dicas sustentáveis para pular Carnaval, até com receita para purpurina sustentável. 

Sustentável e independente

Bruk lembra, no entanto, que ao mudar a estratégia, muita gente deixou de seguir a página, até por não entender a nova abordagem. “Perdemos muitos seguidores, pessoas que não entendiam bem uma marca de roupa passando a recolher câmara de ar para fazer moda. Mas com o tempo conquistamos muita gente e mostramos a importância de discutir o assunto, falar sobre sustentabilidade, consumo consciente e valorização da mão de obra”, relembra.

Atualmente, a marca é massivamente acompanhada por pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mas Bruk entende que o debate precisa ser nacionalizado. Como ele mesmo diz, é necessário furar a bolha, até porque, pela importância do tema, não existe idade, gênero ou mesmo região do País que não deva ser educada no tema. 

A marca é totalmente independente, nunca contou com investimento externo e Bruk pretende continuar desta forma. O material é angariado por meio de parcerias com borracharias e cooperativas de Lagoa Santa (MG), mas também enviado pela comunidade local e por pessoas que acreditam no trabalho. Obviamente, por questões logísticas, o envio desse tipo de material pelos Correios nem sempre é possível por encarecer o processo. 

Ao receber os materiais, ele faz a triagem (sim, as vezes chegam peças que não podem ser aproveitadas para os produtos Bruk) e parte para o tratamento da sua matéria prima. “Após o corte, nós higienizamos, é um processo simples. Coletamos água da chuva ou da máquina de lavar, batemos no tanquinho com sabão e colocamos para secar. Para quem compra, pedimos que de tempos em tempos passe um silicone em gel para manter a beleza. Mesmo tendo grande durabilidade, é preciso cuidar como qualquer outro material”, ensina o fundador. 

E como sustentabilidade virou um tema bastante caro, a Bruk trabalha para que da produção à entrega tudo tenha essa pegada verde. Além dos materiais para produção das peças, ele também recebe e recolhe caixas para as embalagens. Até a fita para fechar a encomenda é sustentável: em vez das tradicionais fitas produzidas de plástico, ele utiliza uma de papel cujo colante é acionado com um pouco de água. 

Por ser uma operação independente e artesanal, a Bruk não divulga quantidade de material recolhido ou reciclado, embora entenda que esse é um ponto crítico. Eles têm aprendido a trabalhar estoque até para dar conta de pedidos maiores que as vezes chegam. Bruk comenta que existe uma certa sazonalidade na quantidade de materiais recolhido e/ou recebido para produção dos acessórios. 

Olhando adiante, qualquer empreendedor padrão falaria em dobrar ou mesmo triplicar as vendas, mas a cabeça de Bruk pensa diferente. “Se perguntar nosso objetivo para 2025 ou 2055, enquanto eu estiver à frente, sempre será difundir e espalhar educação sustentável, investimos nisso para mostrar o quão importante é preservar o meio ambiente. Quando as pessoas perguntam se não é vender mais. Digo que não, até porque nosso objetivo é o consumo consciente.”

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