
O avanço dos crimes digitais no Brasil foi um dos assuntos apresentados no Digital Privacy Summit 2025. Paulo Henrique Benelli, coordenador substituto do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), trouxe números que acendem alerta sobre o cenário: somente em 2024 foram registrados 2,4 milhões de estelionatos digitais no País, o que equivale a quatro ocorrências por minuto.
O contraste dos crimes virtuais com outros crimes patrimoniais é expressivo: enquanto roubos e furtos caíram 15% em 2024, as fraudes digitais cresceram 17% no mesmo período. O desafio da repressão passa pela baixa efetividade da resposta penal. Apenas 23% das fraudes digitais chegam a uma denúncia do Ministério Público, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Essa baixa taxa de responsabilização amplia a atratividade do crime, marcado por escalabilidade, lucratividade e baixo risco. Facções criminosas, apontou Benelli, já incorporam esquemas eletrônicos como parte de sua estratégia de capitalização.
A Rede Cyber como resposta
Diante desse cenário, a Secretaria Nacional de Segurança Pública lançou em junho de 2024 a Rede Cyber, iniciativa que busca articular os 27 estados brasileiros no enfrentamento ao crime digital. A proposta é inspirada em modelos de cooperação já consolidados, como a Rede Nacional de Recuperação de Ativos e a Rede Nacional de Prevenção à Criminalidade Violenta.
A Rede Cyber prevê a criação de laboratórios estaduais de operações cibernéticas, interligados ao Cyberlab Brasil, em Brasília. Esses laboratórios terão infraestrutura tecnológica (software, hardware e capacitação) para investigações locais, independentemente do porte do estado. “O objetivo é que o Acre e São Paulo tenham as mesmas condições mínimas de apuração”, destacou Benelli.
Cooperação e integração
Um dos pontos centrais é evitar que crimes digitais fiquem restritos a fronteiras estaduais. Benelli cita casos recentes que demonstram a complexidade: “nós atuamos na ideia de rede, o Cyberlab Brasil atua como um dos pontos centrais para interlocução entre as polícias, para que a polícia civil da Bahia consiga falar com a polícia civil do Rio Grande do Sul. Já que o crime digital hoje, ele é plural. O hacker consegue daqui de São Paulo causar prejuízo a vítimas no Mato Grosso do Sul, mandando o dinheiro para uma conta laranja em Santa Catarina”. A integração nacional busca justamente impedir que lacunas regionais se tornem brechas para criminosos.
Além disso, o modelo em rede deve difundir boas práticas entre polícias civis, ministérios públicos e órgãos de inteligência. O Cyberlab já coordena projetos como o Amber Alert e a operação Escola Segura, voltada a crimes de ódio e extremismo digital em ambientes escolares, e pretende expandir esse know-how aos estados.
Resultados esperados
O plano do MJSP é alcançar a adesão de todos os estados até o fim de 2025, estruturando laboratórios estaduais e consolidando a rede. A meta é aumentar a capacidade de investigação e, sobretudo, elevar a taxa de responsabilização dos crimes digitais, reduzindo a sensação de impunidade.
Benelli apontou que “no ambiente digital, onde precisa de múltiplos esforços, a gente precisa estar conectado em rede literalmente, para poder realizar essa resposta”. E a resposta precisa ser proporcional à ameaça, já que diante da escalada de fraudes online que estão ocorrendo esta iniciativa de cooperação entre todos os estados passa a ser uma condição de vantagem para a segurança pública nos meios digitais.
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