
Acelerar a transição para uma economia circular embora urgente para o momento global pede atenção às barreiras que ainda persistem. No caso do Brasil, especificamente, representantes da indústria falam em falta de acesso a financiamento e tecnologia para promover a transição que, como explicam especialistas, pede uma mudança de mentalidade já que é preciso repensar o modelo de negócio, a maneira como se cria e produz mercadorias, além das relações com fornecedores e canais de distribuição. Falas sobre tais barreiras estiveram presentes em diversos momentos ao longo da programação do World Circular Economy Forum 2025 (WCEF), em São Paulo.
Rafael Cervone, vice-presidente da Fiesp e presidente do Ciesp, por exemplo, afirma que a instituição acompanha o tema há mais de 10 anos e que tem visto avanços rumo a uma produção mais sustentável por parte da indústria paulista, que emprega mais de 3 milhões de pessoas. “A transição para economia circular requer investimentos significativos em novas tecnologia, coleta, seleção e processamento de materiais e redesenho de produtos e processos”, pontuou.
Cervone lembrou que, no Brasil, o custo de materiais reciclados pode ser maior que o de recursos virgens, mas entende que o maior desafio para a transição rumo à circularidade é outro. “O sistema financeiro e os modelos de investimento existentes, em sua maioria, se voltam a negócios lineares. Falta investimento acessível e incentivo financeiro para iniciativas circulares, tanto pelo setor privado e bancos públicos”, avaliou o presidente do Ciesp.
Quem também destacou as barreiras para projetos de economia circular na indústria foi o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Thomé. Ele entende que além das barreiras econômicas, existe o problema de acesso à tecnologia, normalmente com alto custo, e a falta de profissionais qualificados. “É preciso um trabalho do governo, do setor financeiro, do setor privado e cooperação internacional, precisamos de incentivo à inovação e atualização tecnológica e políticas que tragam circularidade como eixo de desenvolvimento”.
Mudanças dos dois lados
Apesar disso, Thomé destaca que o momento pede ação rápida por conta da crise climática e do rápido crescimento na demanda por extração de recursos naturais, em especial minerais críticos. Para ele, a indústria tem papel fundamental na circularidade econômica que, além de pensar no futuro, é fundamental para ações de descarbonização e desenvolvimento sustentável como um todo. O vice-presidente da CNI reforçou ainda a participação da entidade na recém-lançado Plano Nacional de Economia Circular e lembrou que, globalmente, o índice de circularidade permanece muito baixo.
A América Latina patina quando o assunto é circularidade. A região recicla menos de 5% e desperdiça 30% do seu alimento, como lembrou Luiz Azevedo, diretor de ESG do IDB Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) voltado para financiamento de projetos no setor privado. Mas o executivo disse ver um movimento interessante e tem financiado iniciativas na região. No entanto, trouxe como desafio chave a característica do modelo de negócio.
“Diferentemente do modelo linear, que olha produção em massa e curto prazo, modelos circulares focam no longo prazo, na colaboração. Desenhar produtos na circularidade pede mudança em práticas, investimento em inovação, design, tecnologia”, destacou Azevedo. Para ele, o financiamento até existe e é facilitado, mas não para todo mundo, já que ainda não se enxerga escala no modelo.
Assim como as empresas no processo de transição para circularidade, o executivo arriscou dizer que do lado financeiro é preciso uma reflexão sobre mudanças também. “Precisamos mudar a maneira como identificamos projetos e pensar no longo prazo de forma holística. Instituições multilaterais têm papel chave para desempenhar provendo financiamento e assessoramento técnico”, resumiu Azevedo.
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