Deep Tech Summit 2025
Raphael Braga da Silva, Pedro Wongtschowski e Bruno Quick no Deep Tech Summit 2025

O alinhamento de políticas de inovação, a construção de um ecossistema de inovação mais conectado na América Latina, a bioenergia e a bioeconomia despontando como caminhos estratégicos para o Brasil e a junção de tecnologia e biodiversidade para gerar impacto socioambiental foram algumas das conversas no primeiro dia do Deep Tech Summit 2025.

Durante os debates, Pedro Wongtschowski, Presidente do Conselho para Inovação e Competitividade da Fiesp, defendeu que para ganhar competitividade, o país deve alinhar incentivos, proteger o financiamento de C&T e fortalecer a cooperação sul-americana, construindo vínculos duradouros entre universidades, empresas e governos. O sistema de inovação do Brasil opera sob forte pressão, precisando avançar enquanto enfrenta falhas estruturais. Na visão de Wongtschowski, entre os principais desafios estão reformar a Lei do Bem, garantir a continuidade dos recursos do FNDCT, modernizar instituições como o INPI e ampliar a integração científica regional.

O Sebrae, por exemplo, enxerga seu papel como articulador em rede, capaz de conectar instituições, pessoas e países para superar a fragmentação que ainda marca os ecossistemas de inovação no Brasil e na América Latina. A maior inovação possível hoje seria trabalhar juntos de forma integrada, criando condições para que ciência e empresas avancem com impacto real na economia. Para acelerar processos de pesquisa, licenciamento e transferência de tecnologia, é preciso construir visões sistêmicas e agendas colaborativas, alinhando recursos, competências e também regulações.

A participação pública na inovação tem um papel relevante quando se trata do Brasil. O governo federal, através da FINEP, planeja ampliar seus recursos para ciência, tecnologia e inovação, com previsão de chegar a até R$ 70 bilhões nos próximos 4 anos. Ancorada nas missões da nova política industrial, a estratégia combina crédito, subvenção, investimentos e parcerias regionais. Raphael Braga da Silva, Gerente de Inovação Corporativa do FINEP, destacou que, embora o Brasil desponte em aporte público em relação a outros mercados, também precisa atrair mais capital privado. A agência tem buscado ampliar conexões entre universidades, grandes empresas e deep techs, estimulando projetos aplicados a demandas reais da indústria.

Oportunidades da bioenergia

Deep Tech Summit 2025
Gonçalo Pereira no Deep Tech Summit 2025

A energia tem um papel fundamental na economia e na sociedade. Temos uma abundância energética disponível proveniente do sol de cerca de 6,3 milhões de vezes o consumo global anual, contudo, somos incapazes de converter esta abundância em uso eficiente. O professor Gonçalo Pereira, Coordenador Laboratório Genômica e Bioenergia da Unicamp, descreve o planeta como “uma grande biorrefinaria” e aponta que o Brasil é um país estratégico para acelerar a conversão para energias renováveis em escala.

Um ponto de difícil transposição é o custo competitivo dos combustíveis fósseis, que é bem menor que das fontes renováveis. Porém se cada unidade de energia fóssil gera um emprego, a bioenergia pode gerar até 40. Ou seja, apesar do custo mais elevado, a bioenergia não só é sustentável como se reflete em desenvolvimento econômico.

Vemos no mundo todo o quanto o acesso à energia se traduz diretamente em concentração de renda e oportunidades. Enquanto um norte-americano consome em média 290 gigajoules por ano, um habitante da África Subsaariana acessa apenas 11.

Para equilibrar esta balança, é necessário investir em inovação para obter mais alternativas de bioenergia. Um exemplo citado foi o da Macaúba, que tem alta produtividade inclusive em áreas degradadas e semiáridas, tendo o Brasil uma excelente oportunidade para aproveitar este potencial de produção de biocombustível avançado e também recuperar o sertão nordestino, por exemplo.

Pereira apontou ainda que temos deve de casa a ser feito, citando a necessidade de rever políticas como o RenovaBio, com estímulos que ampliem o uso de etanol nos veículos flex e promovam a valorização real dos créditos de carbono. Ele defende que a estratégia deve ir além da descarbonização: trata-se de transformar abundância natural em inclusão econômica, permitindo que o Brasil use seu potencial para liderar em bioenergia e inovação sustentável.

Ciência, tecnologia e sustentabilidade

Deep Tech Summit 2025
Romulo Zamberlan no Deep Tech Summit 2025

A Natura é conhecida por seu forte apelo ambiental, fruto de um trabalho de inovação ao longo das últimas duas décadas, sustentado por ciência, biodiversidade e impacto socioambiental positivo. Este eixo integra produto, modelo de negócios e relação com o planeta.

Romulo Zamberlan, Diretor de Pesquisa Avançada e Inovação Aberta da Natura, contou que a empresa usa uma metodologia proprietária que mede impactos em três frentes: capital humano, natural e social. Em 2024, o indicador apontou que a cada R$ 1 de receita, foram gerados R$ 2,50 em benefícios socioambientais.

Com cerca de 500 pesquisadores internos e mais de 1.300 fórmulas desenvolvidas por ano, a companhia investe em inovação e alta tecnologia. Mais da metade dos projetos são cocriados em parceria com universidades, startups e centros de pesquisa. O foco está em disciplinas diversas, como agricultura regenerativa, biologia da pele, ecodesign e neurociência, todas aplicadas à biocosmética.

Entre os casos recentes de inovação, Zamberlan citou os bioinsumos regenerativos desenvolvidos em parceria com a startup Solobio e o SENAI, aplicados a sistemas agroflorestais de palma no Pará; bioplásticos a partir de metano, em colaboração com a norte-americana Mango Materials, tecnologia que já foi testada em embalagens de sabonetes e um inventário florestal com drones, em cooperação com a startup Bioverse, que permitiu mapear 40 mil hectares em escala inédita na Amazônia.

A estratégia de inovação é perene na empresa, tanto que a Natura mantém iniciativas como o Natura Nascente, com desafios de inovação para startups, e o Natura Campos, plataforma dedicada à aproximação com pesquisadores e empresas de base tecnológica. Segundo a companhia, valores compartilhados de sustentabilidade e regeneração são critérios decisivos para consolidar parcerias de longo prazo.

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