A Economia Circular está emergindo não apenas como uma iniciativa de sustentabilidade, mas como um motor poderoso para repensar e transformar modelos de negócios inteiros. Os cases da The Royal Mint e da Ball Corporation mostram como a circularidade, quando abraçada como uma estratégia central, pode gerar valor, inovação e longevidade.

Conforme destacado por Jie Zhou, head de Inovação da CISL (Cambridge Institute for Sustainability Leadership), o foco deve sair do obsoleto modelo linear de “pegar, fazer e desperdiçar” para o paradigma de “confiar, construir e circular”. A especialista apresentou os exemplos durante o Global Growth and Circular Futures, eventos paralelo ao Slush 2025, organizado pela Universidade de Helsinque.

Do lixo eletrônico ao luxo

A tradicional casa da moeda britânica, The Royal Mint, promoveu uma inusitada reinvenção. A marca existe há séculos e surgiu como produtora de moedas. Com o avanço da economia digital e a redução do uso de dinheiro em espécie a empresa decidiu que precisaria repensar sua atuação. De maneira inesperada a companhia juntou inovação e circularidade, ao perceber que o lixo eletrônico (e-waste) é a cadeia de resíduos de crescimento mais rápido, e que placas de circuito contêm ouro puro, sua principal matéria prima.

O Novo Modelo: em parceria com uma startup canadense, eles estabeleceram a primeira fábrica mundial capaz de recuperar ouro de placas de circuito (cada tonelada de placas eletrônicas pode conter até 1,5 quilo de ouro). Este ouro recuperado, que seria lixo, é transformado em joalheria de luxo de alta qualidade. Eles chegam a fabricar peças para a marca de luxo Stella McCartney.

Confiança na Transição: o sucesso do novo modelo dependeu de confiança, tanto com os clientes (validando que o material recuperado é tão bom, ou até melhor, que o virgem) quanto com os funcionários, investindo pesadamente no reskilling dos trabalhadores para se tornarem joalheiros.

Neste caso, a circularidade não foi apenas sobre reciclagem; foi a base para a criação de uma nova linha de produtos de alto valor agregado e a diversificação do negócio principal.

Circularidade como estratégia colaborativa

A Ball Corporation, maior produtora mundial de latas de alumínio, confronta o desafio da circularidade de seu produto: o alumínio é infinitamente reciclável, mas a taxa de coleta global ainda é baixa (o Brasil lidera mundialmente a reciclagem de latas de alumínio). O problema não está no material, mas no sistema de coleta.

A Ball atacou o problema sistêmico em duas frentes: 

Incentivo financeiro: campanhas e locais para coleta do material que oferecem um incentivo financeiro para que as latas retornem ao sistema, não ao lixo.

Colaboração na cadeia: lançamento da Iniciativa de Gestão do Alumínio, unindo-se a concorrentes para criar padrões setoriais. O objetivo é garantir que “todos ganhem quando todos ganham” através da padronização e colaboração.

Para a Ball, a circularidade se tornou estratégia central porque garante a segurança e a qualidade do fornecimento de sua principal matéria-prima.

Para Jie Zhou, a Economia Circular é o caminho para um crescimento que não compromete a qualidade e a viabilidade financeira, mas exige a coragem de repensar radicalmente onde o valor pode ser encontrado no “lixo” e como a colaboração pode aprimorar os sistemas de negócio.

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