Todos os dias somos atropelados por notícias relacionadas à inteligência artificial. Debates que focam em automação de tarefas, discussões sobre futuro do trabalho, pesquisas que narram quem tem ou não medo de perder o emprego. Para o futurista Ian Beacraft, esses debates, no entanto, em sua maioria ficam na superfície do potencial da tecnologia e, até por isso, tais discussões tendem a soar repetitivas. 

Apesar do desafio e de entender que os debates precisam de mais profundidade, Beacraft avalia que há uma boa razão para essas conversas intermináveis: a IA é vista como uma das tecnologias mais consequenciais do nosso tempo. Beacraft ressalta a importância de compreender a transformação que a IA está causando no mundo atual, comparando a situação a períodos passados de grandes mudanças tecnológicas e destacando a necessidade de adaptar nossas perspectivas e práticas de trabalho para acompanhar essas mudanças.

Concentrar as discussões apenas na superfície, na visão do especialista, pode ser perigoso. Beacraft afirma que boa parte das conversas gira em torno de automações de tarefas específicas e não no entendimento do impacto maior que pode acontecer em nossa forma de trabalhar e em modelos de negócio. 

“Se focarmos apenas na eficiência de tarefas, podemos ganhar a batalha pela eficiência, mas perder a guerra pela relevância”, avalia Beacraft. Ele destaca que a verdadeira transformação da IA não está apenas em automatizar tarefas individuais, mas em entender como ela muda o que é valorizado nas organizações e na sociedade. Ele defende que precisamos elevar nosso olhar para compreender como a IA já reformula o ambiente em que operamos. “Isso nos permitirá perceber onde o valor está e adaptar as nossas estratégias em linha com essa direção.”

Ao participar do Dell Technologies Forum Brasil, em outubro, em São Paulo, o futurista passou por ao menos seis aspectos que devemos observar quando o assunto é inteligência artificial.

1 – Impacto no trabalho: ele entende o debate em torno de automação de funções e todo o frisson sobre o futuro do trabalho, funções e organizações, mas avisa que a transformação desse panorama já está em curso e quanto mais focarmos no superficial, menos vamos entender o real valor dessa tecnologia. Ian Beacraft compara as mudanças atuais com a revolução industrial, ao argumentar que, assim como no passado, novas tecnologias criam possibilidades e reconfiguram a maneira como trabalhamos. 

2 – Paradigmas: o futurista enfatiza a mudança de um modelo de ação para um modelo de colaboração, onde humanos e máquinas trabalham em conjunto, não apenas na realização de tarefas, mas na concepção de novos sistemas de trabalho. E isso representa uma quebra de paradigma gigante para os modelos aos quais nos habituamos. 

3 – Os desafios das habilidades: muitos especialistas em trabalho e educação já alertam para o aprendizado contínuo e para uma menor relevância de determinadas habilidades técnicas (sim, seguem importante, mas depende muito de como você as utiliza). Beacraft afirma que essas habilidades mais técnicas têm tempo de validade cada vez mais curto e a capacidade de adaptação se tornará mais valiosa que a profundidade de conhecimento em uma só área. Não à toa muitas empresas ao contratarem para equipes de tecnologia, além da questão técnica, avaliam pensamento crítico, curiosidade, capacidade de resolver problemas, comunicação, entre outros, isso tem valido mesmo para áreas como segurança da informação. 

4 – Generalistas são bem-vindos: o futurista toca em um ponto que pode assustar muita gente, mas fazer a alegria de outras tantas, já que, na perspectiva dele, a IA democratiza a execução de tarefas complexas. Exemplo bem simples: com IA, uma pessoa sem conhecimento de programação ou HTML coloca site no ar e consegue até configurar um bot simples. Essa possibilidade aberta pela tecnologia dá a oportunidade para pessoas transcenderem as fronteiras tradicionais de suas funções de trabalho e se aventurarem em um leque mais amplo. 

5 – Novas métricas: aqui ele traz um desafio para profissionais de recursos humanos e lideranças de forma geral. Como mensurar sucesso em tempos de mudança? Beacraft entende que isso será possível apenas com novos indicadores, que saiam do campo tradicional e foquem em inovação, adaptação, experimentação. 

6 – Colaboração e pioneirismo: há tempos falamos da capacidade de colaboração como necessária para inovação, seja ela incremental ou disruptiva. Em tempos de IA, Ian Beacraft entende que a importância da colaboração e da exploração coletiva tem sua importância ampliada, já que o futuro se mostra mais incerto e com mudanças que acontecem de forma muito mais rápida. Ou seja, processos como inovação aberta são mais que bem-vindos e a colaboração para a ser obrigatória, internamente, com parceiros, universidades, governo, onde houver possibilidade de criar, explorar e inovar. 

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