
Tradicionalmente o Fleury investe muito em tecnologia. O laboratório já venceu diversos prêmios de inovação, falava em mapeamento e gestão do conhecimento antes de o assunto virar moda, usava inteligência de dados para avaliação de exames antes do avanço de IA e, agora, tem apostado forte em inteligência artificial e já vislumbra benefícios com computação quântica. Mas tudo isso sem ceder aos delírios do modismo. Como frisa o CIO da companhia, João Alvarenga, por lá, não existe investir em tecnologia só pela tecnologia, negócio e clientes vêm antes e direcionam o investimento.
Por mais que possa parecer básico, ainda tem muita gente no mercado que corre atrás da última tecnologia e a aplica sem mesmo ter entendido o problema. Não à toa, o mercado convive com centenas de projetos sem retorno. “70% dos projetos digitais no mundo falham (BCG/Mckinsey). Deveríamos partir da estratégia, cultura, escalabilidade, experiência e, em função dessas respostas partimos, para tecnologia, soluções digitais, ou não. Mas tem de nascer sempre com propósito”, detalha o CIO.
Atualmente, a empresa tem inteligência artificial aplicada em diversos processos e a ideia é que o uso avance na medida em que as soluções voltadas para a prática médica tenham eficiência comprovada cientificamente e aprovação dos órgãos regulatórios.
IA na prática
Exemplos, no entanto, não faltam. Um deles é o uso no agendamento digital que, com aplicação da IA, ganhou agilidade e conferiu mais produtividade ao time nas unidades, como lembrou Alvarenga. Outro uso interessante foi aplicação da tecnologia para transcrição de pedidos médicos, que ainda pode ser um desafio para o cliente do outro lado da tela.
Já na área média, como apresentou Bruno Aragão Rocha, radiologista e coordenador médico de inovação do Grupo Fleury, o uso de IA acontece há quatro anos, especialmente, na radiologia onde o uso é aplicado para triagem de tromboembolismo, por exemplo, entre outros problemas. O próximo passo, afirmou, é incluir para algo similar nos exames de mamografia. “São ferramentas comerciais, prontas, com liberação regulatória. A maior dificuldade é validação e comprovação de que vai entregar valor. A radiologia acaba sendo área mais avançada em aplicação e rotina porque foi primeira área”, relembra.
Rocha comenta que no FDA, órgão norte-americano similar à brasileira Anvisa, 76% dos produtos de IA estão em radiologia, patologia vem em segundo. Ele reforça, com entusiasmo, que estão em validação ferramentas muito interessantes e aproveitar para ressaltar um ponto essencial e que costuma causar muita insegurança nas pessoas: “as ferramentas não são autônomas, é IA + humano. A tecnologia destaca a área que precisa de mais atenção e isso acelera análise e minimiza chance de erro.”

Retorno é fundamental
O cuidado no olhar a tecnologia para área médica e considerar estratégia, negócio e experiência dos clientes antes de aplicá-la em processos da empresa tem ajudado o Grupo Fleury a colher resultados positivos, isso em um cenário onde a maioria dos projetos de IA ainda não entregam retorno sob investimento, o famoso (ROI). Como explica o CIO do Grupo, os projetos se sustentam pela metodologia de partida e, também, por monitorar retornos quantitativo e qualitativo.
“Temos crivo interno muito grande com investimento. Ele precisa ter retorno, payback e, naturalmente, esses pontos vão desaguar em aumento de receita, melhora da experiência, redução de custo ou melhora no engajamento de cliente. Observamos isso para decidir por um projeto em detrimento de outro”, detalha.
O interesse do Grupo Fleury e do setor da saúde em tecnologia, especialmente IA, não é em vão. O Brasil é um dos países com maior taxa de envelhecimento, grande extensão territorial e com desafios logísticos. Nesse contexto, tecnologia se torna elemento fundamental na disseminação dos serviços e, também, no ganho de eficiência do setor, como lembra a presidente da empresa Jeane Tsuitsui. Para a executiva, IA tem impacto gigante em conhecimento, na saúde, mas, sobretudo, na produtividade que, na visão dela, é fundamental para sustentabilidade do sistema de saúde.
“Potencial redução de custo estrutural torna serviço de saúde mais acessível para população e essa causa nos move. Além do investimento em tecnologia para a prática médica, temos ampliado acesso a serviços de qualidade a mais brasileiros”, relatou Jeane, ao lembrar da introdução da telemedicina no grupo há seis anos e que hoje oferece em torno de 3 mil consultas diárias. A jornada tecnológica do Fleury inclui também uso de drones para transporte de amostras de exames para reduzir tempo de deslocamento e acelerar resultados e estudos para uso de computação quântica, que promete mais revolução em saúde.
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