A empresa de pesquisa Ipsos divulgou seu relatório de tendências, o Ipsos Global Trends, e alguns dados chamam a atenção, como o aumento da consciência sobre a necessidade de se fazer algo para evitar as mudanças climáticas, assim como a dicotomia entre enxergar tecnologia como o meio para melhorar o futuro e, ao mesmo tempo, temer tecnologias emergentes por razões variadas. 

Ao todo, o relatório traz nove grandes tendências que tratam de globalização, niilismo, saúde, confiança, individualismo, mas optamos por explorar três delas neste texto:

Convergência climática

No mundo, 80% dos entrevistados pela consultoria acreditam que se não mudarmos os hábitos rapidamente, caminharemos para um desastre ambiental. No Brasil, esse número chega a 85%. O porcentual mais alto entre os países pesquisados é na Indonésia, com 95%, e, o mais baixo, no Japão, com 74%.

Um dado curioso é que, mesmo com essa consciência elevada, não se vê um ímpeto de mudança tão grande, já que desses mesmos entrevistados, 72% afirmam que já fazem o que podem para salvar o meio ambiente. Oito pontos percentuais separam os 80% da média global que entende a necessidade de mudança de hábito e os 72% que afirmam que já fazem sua parte.

A Ipsos avalia que os investimentos em produtos renováveis e os sinais cada vez mais claros das mudanças climáticas (no Brasil temos tido diversos exemplos como as chuvas e enchentes no Sul e Sudeste, além da seca histórica na Amazônia) despertam o interesse e um reconhecimento da necessidade de mudanças comportamentais. Houve aumento desse entendimento pelo segundo ano seguido, mas a pergunta que a consultoria também faz é: o quão rápido e até onde as pessoas estão dispostas a mudar suas rotinas em prol de metas coletivas? Isso mesmo, quando o assunto é clima, o pensamento deve ser coletivo.

Do lado das empresas, o conselho é demonstrar comprometimento e comunicar esses movimentos de forma mais transparentes, pois isso é esperado pelos clientes. A maioria acredita que o mundo corporativo não está fazendo o suficiente. No caso do Brasil, existe o problema da comunicação, mas também a falta de priorização da agenda climática nas empresas.

Em recente evento digital organizado pela Deloitte, Gabriela Blanchet, que lidera a iniciativa de governança climática do Fórum Econômico Mundial aqui no Brasil, afirmou que levantamento com diversos países revelou que Brasil e Estados Unidos são os países onde os conselhos menos priorizam discussões sobre questões climáticas. Por aqui, 42%% das empresas não levam discussões sobre clima para o conselho ou comitês, além disso, 36% dos conselheiros indicaram que clima não está na agenda de risco ou estratégia de negócio. 

Tecnologia

É verdade que existe um endeusamento da tecnologia por parte da sociedade. E, para isso, é preciso recorrer a um conceito japonês que nem é novo: Sociedade 5.0. Nesse modelo de sociedade, se utiliza tecnologia, mas quem está no centro é o ser humano, a tecnologia precisa ser aplicada para melhorar a qualidade de vida das pessoas Mas voltando à pesquisa da Ipsos e ao tópico de maravilhar-se com tecnologia, 71% dos entrevistados acredita que precisamos de novas tecnologias pois, apenas assim, poderemos resolver problemas futuros.

Por outro lado, quando essas mesmas pessoas são questionadas acerca de possível medo de a tecnologia destruir vidas, em média, 57% responde que tem esse receio. No Brasil, o porcentual alcança 68%. O país onde o medo tem seu pico é o Egito, com 74%, e a menor taxa foi observada na China, com 47%.

O relatório lembra mostra que esse sentimento de se maravilhar com as tecnologias anda lado a lado com a insegurança que o novo traz, seja pelo impacto no mercado de trabalho e como elas afetam as mais diversas carreiras, seja pelo impacto na saúde mental das pessoas. Esses temores muitas vezes impedem que os benefícios sejam vistos. 

Como lembra a Ipsos, as maravilhas da tecnologia e toda conveniência trazida por ela entra em choque com as potenciais ameaças e vulnerabilidade humanas. Quando o assunto é inteligência artificial, por exemplo, esse sentimento dúbio também é presente, mesmo em gerações mais novas. Um estudo global da EY mostrou, por exemplo, que 35% das pessoas da geração Z enxergam IA com concorrente. 

Sociedade fragmentada

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e não está sozinho nessa estatística ruim. Muito embora haja um esforço para melhorar a vida das pessoas, a concentraram de renda e riqueza ainda causa espanto e o estudo da Ipsos capturou esse sentimento negativo: 77% dos entrevistados concordam que grandes diferenças em renda e riqueza são ruins para a sociedade.

Como traz o relatório, a desigualdade que assola diversos países é reconhecida como algo que deteriora a sociedade, ainda que muitas nações tenham conseguido melhorar esse quadro nos últimos anos. No entanto, essa insatisfação crescente resulta em estresse e em uma fragmentação das estruturas tradicionais, com novas ideologias e entidades políticas emergindo. 

No Brasil, um exemplo recente dessa fragmentação foi a eleição para a prefeitura na Capital Paulista, onde a própria direita, que muitos achavam unida em determinados nomes, se viu fragmenta em diferentes vertentes. E um dos candidatos mais competitivos era totalmente fora do mundo da política e levou muitos votos das periferias com parte do discurso focado em prosperidade.

Ainda nesse ponto, o relatório mostrou que as pessoas entendem que as empresas deveriam contribuir mais com a sociedade. Comunicar melhor as ações pode ajudar a reduzir esse sentimento negativo.

Tem interesse em explorar o Ipsos Global Trends completo? Acesse aqui o site da consultoria (o conteúdo está em inglês). 

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