
A corrida global por minerais críticos, como lítio, nióbio e outros presentes em terras raras, vistos como fundamentais para a transição energética, não é mais questão de futuro, mas de presente. No centro do debate, o Brasil desponta com reservas estratégicas, mas ainda precisa estruturar melhor sua cadeia produtiva e transformar inovação em política de Estado. Esse foi o tom do painel na São Paulo Climate Week 2025, realizada no Cubo Itaú.
Para Ana Flávia Nogueira, diretora do CINE – Centro de Inovações em Novas Energias e professora titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), incentivar pesquisa e inovação não deve ser visto como custo, mas como necessidade. A China é citada como exemplo emblemático de visão estratégica: investiu fortemente em pesquisa de terras raras e hoje domina essa cadeia global. O Brasil, por outro lado, “perdeu o bonde”, como pontuou Ana Flávia, ao descontinuar suas iniciativas ainda nos anos 1980, apesar de possuir reservas promissoras e histórico científico relevante.
Muitas empresas ainda veem a sustentabilidade como custo, especialmente no curto prazo, e iniciativas como cadeias rastreáveis e economia circular ainda não geram retorno financeiro direto. No entanto, com a nova geopolítica e a crescente demanda por minerais críticos em tecnologias como baterias e energia renovável, esse cenário está mudando. O Brasil tem grande potencial, mas ainda precisa se planejar e estruturar melhor para aproveitar as oportunidades, descreveu Rafaela Guedes, consultora independente e Senior Fellow do CEBRI.
Inovação sustentável
Na contramão do mercado, a Saint Gobain vê a inovação como investimento, aponta Guilherme Denzin, Gerente de Geologia da empresa. Com centros de pesquisa próprios, a empresa atua como uma “universidade interna” e já foca em soluções voltadas aos minerais e elementos críticos. Um exemplo é a criação de uma unidade específica voltada ao desenvolvimento de soluções para toda a cadeia do lítio, apostando em tecnologias como a extração direta (DLE) a partir de fontes de baixo carbono.
Rodrigo Lauria, Diretor de Mudanças Climáticas e Carbono da Vale, reforçou o papel do Brasil como detentor de reservas significativas, como no caso das terras raras. A demanda precisa ser criada de forma intencional, seja por políticas públicas, relações bilaterais ou coalizões internacionais.
A Vale, junto ao BNDES, lançou o primeiro fundo de minerais críticos, com foco em pequenas e médias empresas. O objetivo é incentivar inovação e ampliar a capacidade de operação no setor.
Inteligência artificial como aceleradora de processos
Rafaela destacou o potencial da IA para integrar grandes bancos de dados nacionais que cruzem oferta e demanda: “O que é que serão essas demandas puxadas pela nossa própria economia? Porque, num momento geopolítico complexo como a gente está, quanto mais a gente puder saber o que a gente mesmo pode demandar, é um atrativo.”
A inteligência artificial é uma aliada para tornar a cadeia dos minerais mais eficiente e rastreável. No caso do lítio, a Saint-Gobain desenvolve modelos preditivos com IA que ajustam dinamicamente os processos industriais reduzindo perdas e otimizando a extração.
Nióbio: oportunidade estratégica
Ana Flávia explicou que o Nióbio é mineral estratégico para o país porque temos praticamente mais de 90% das reservas mundiais. Contudo, ainda não há demanda significativa e o desafio é encontrar nichos. Um exemplo citado foi uma pesquisa da Unicamp que usa óxido de nióbio em novas tecnologias de painéis solares com perovskita.
Ponto em comum entre os participantes é a necessidade do Brasil agir com urgência para não perder mais uma vez o protagonismo, de forma coordenada entre governo, empresas, startups e academia. Sustentabilidade e inovação só geram resultados reais se forem tratadas como parte central da estratégia das empresas.
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