
O embaixador André Correia do Lago, presidente da COP 30, que acontecerá neste ano, em Belém (PA), afirmou que sua principal função é a de “assegurar ao mundo que vale a pena negociar o clima e que só trabalhando juntos podemos ter o resultado com impacto necessário”. A fala do embaixador ocorreu nesta sexta-feira (28/03), durante o COP30 Business Forum, realizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Questionado sobre a busca por um consenso na edição em que o Brasil está na presidência, Lago ressaltou que é preciso observar a COP30 a partir de 4 pilares: a conferência de chefes de Estado que acontecerá separada da COP, três dias antes; a negociação formal, que acontece na zona azul; a agenda de ação, que envolve governos locais, regionais, universidades e cientistas, para colocar as ações negociadas em prática; e, por último, a oportunidade de ter o Brasil no centro das atenções no cenário global ao longo de 12 dias. “É uma coisa que não tem preço, se soubermos aproveitar essa oportunidade, temos tanto a contar sobre Brasil que vai ser ocasião incrível”.
Ainda durante sua participação, o embaixador também comentou o não atingimento dos resultados previstos no Acordo de Paris. Na visão dele, um dos pontos a ser considerado é a aceleração da mudança climática. Ele reforçou que a ciência acertou a previsão do que poderia acontecer, mas não previu que seria na velocidade presenciada atualmente. Assim, defendeu um reforço e mais velocidade nas ações tomadas pelos países.
Menos da metade das nações conseguiu atingir o que estava previsto nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, da sigla em inglês), ou planos de ação de cada país para cumprir com os objetivos do acordo. Por isso, o prazo para essas metas foi estendido. “Com o novo prazo, há expectativa de que os países ajustem suas NDCs para que sejam mais ambiciosas. A União Europeia está preocupada não só pela saída dos EUA do Acordo de Paris, com divisão entre os países desenvolvidos, mas também pelas ameaças, questão de defesa e segurança energética. Não se sabe até que ponto essa ambição vai continuar. Acredito que será mantida porque há compreensão de que as coisas estão acontecendo em camadas”, explicou.
Desinformação
Olhando para os desafios que se colocam adiante, o presidente da COP30 entende que o maior pesadelo com o qual precisa conviver é o da desinformação. E neste ponto, especificamente, ele faz uma mea-culpa, ao ressaltar que a comunicação sobre clima de maneira geral não tem sido fluída. Ou se divulga pouco, quase que guardando as coisas com os cientistas e especialistas, ou se explica de maneira complexa e inacessível ao entendimento geral. “Tudo isso teve consequências negativas. Nos próximos meses vamos explicar de forma clara o que podemos obter com dados que mostram que essas negociações mudaram a direção da economia mundial.”
Mesmo com a maré contrária à agenda ambiental que parece crescer no mundo, até com diversos grandes bancos deixando alianças importantes sobre o clima, o embaixador se mostra otimista. Ele entende que a dimensão política norte-americana pesa, mas que os dados mostram que trabalhar pelo clima é um bom negócio. “O preço da inação já custa 1% do PIB global. Falamos de US$ 1 trilhão para corrigir e não melhorar. Como fazemos esse ajuste?”, questionou.
Sobre a possibilidade de uma grande negociação ou acordo durante a COP30, Lago reforçou que, diferente de outras edições, os principais pontos do mandato brasileiro serão: a apresentação das novas NDCs pelos países signatários; e, de forma conjunta com o Azerbaijão (que presidiu a última edição), apresentar como passar de US$ 300 bilhões para US$ 1 trilhão os investimentos, com caminhos para se chegar a esse montante. Na COP de Baku a negociação visou ao aumento das contribuições financeiras por parte dos países ricos e, agora, deve ser apresentado um documento com caminhos para essa ampliação.
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