
A Onego Bio, spin-off de um centro de pesquisa da Finlândia, está utilizando biologia fúngica avançada para descarbonizar a cadeia de suprimentos de alimentos. A empresa já garantiu a aprovação da FDA e €70 milhões em financiamento. Por conta do desafio regulatório na Europa, a prioridade inicial é o mercado dos Estados Unidos, onde está prevista, em breve, uma fábrica que produzirá proteína equivalente a uma granja com 6 milhões de frangos.
A proteína do ovo é considerada por muitos o padrão ouro das proteínas, sendo crucial para funcionalidades como criar produtos; são milhares de aplicações possíveis. No entanto, Maija Itkonen, fundadora da Onego Bio, aponta um dilema central: a indústria de ovos, apesar de movimentar 300 bilhões de euros, é “surpreendentemente frágil”. A logística opera com apenas “alguns dias de cautela” contra interrupções, como surtos de gripe ou salmonela.
Essa vulnerabilidade resulta em flutuações de preços, que impactam diretamente os fabricantes de alimentos. Maija ressalta que essas empresas têm estudado e testado “todas as alternativas possíveis” ao ovo por cinco a dez anos, mas falham em encontrar um substituto que combine funcionalidade, digestibilidade e nutrição.
Proteína feita por fermentação
A resposta da Onego Bio para essa fragilidade é a albumina de ovo real produzida por meio de um processo de fermentação, “não feita com animais”. A fundadora explica que cada ovo contém apenas uma pequena porção dessa proteína funcional, o resto sendo principalmente água, gorduras e colesterol. A Onego Bio se concentra em produzir apenas a parte funcional, com a proposta de oferecer um produto que mantenha o mesmo preço e desempenho do ovo tradicional, mas com uma pegada ambiental 90% menor. Em testes cegos, biscoitos feitos com a proteína da startup foram inclusive preferidos pelos consumidores.
O cerne da inovação reside no fungo Trichoderma, uma tecnologia descrita por Maija como “antiga”, já utilizada na produção de enzimas, cores e coalho. Este fungo, descoberto inicialmente em ilhas por soldados americanos, foi modificado geneticamente por pesquisadores na Finlândia nos anos 80, permitindo a produção de substâncias diferentes de suas próprias enzimas. Em meados de 2010, um dos co-fundadores teve a ideia de usar essa biologia para produzir as principais proteínas animais.
O processo é super eficiente e flexível em relação à matéria-prima, utilizando tipicamente glicose de milho, mas podendo incorporar subprodutos de outras indústrias ou até culturas como o cacto. Após a fermentação, o fungo é filtrado e o líquido contendo a proteína é seco, resultando no pó. A biomassa fúngica residual não é desperdiçada, sendo utilizada na produção de materiais como couro ou papelão, ou como alimento animal de alto valor nutricional.
Grande impacto ambiental
Os benefícios ambientais da produção por fermentação são significativos: a tecnologia resulta em 87% menos gases de efeito estufa, 95% menos uso de terra e 70% menos uso de água em comparação com a criação de galinhas. A empresa já utiliza fermentadores de 62.000 litros e está planejando uma unidade de fabricação em Wisconsin com capacidade volumétrica de quase 2 milhões de litros, equivalente a uma “fazenda de quase seis milhões de galinhas”.
A estratégia de mercado da startup é focada nos Estados Unidos. Embora a pesquisa seja na Finlândia, o escritório comercial e os laboratórios de alimentos estão em San Diego. O Brasil também está na mira para apostas futuras pelo amplo consumo de proteína. Questionada se não seria uma competição complexa, já que o Brasil é um grande produtor, ela disse que posiciona seu produto como complementar a essa cultura e muito focada na indústria alimentícia.






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