João Lucas Saldanha, da Tripla

Por João Lucas Saldanha

Na era digital, a inteligência artificial (IA) já se mostra como uma força discreta e onipresente, moldando silenciosamente nossas escolhas diárias. Das redes sociais aos sites de e-commerce, algoritmos cuidadosamente ajustados decidem o que vemos, compramos e até como interagimos – tudo isso enquanto nós permanecemos alheios aos mecanismos que, aos poucos, direcionam nosso comportamento.

Inspirado na célebre citação de Carl Jung – “Até que você tornar o inconsciente consciente, ele irá dirigir a sua vida e você o chamará de destino” – o fenômeno se repete no ambiente digital. Sem a devida compreensão de como as ferramentas de IA operam, os usuários podem facilmente se acomodar diante de sugestões aparentemente aleatórias, mas que na verdade seguem padrões pré-definidos e enviesados.

Em suma, a ‘aleatoriedade’ que nos é apresentada pode ser uma ilusão cuidadosamente arquitetada, que leva à formação de bolhas de informação e eco chambers – ambiente, muitas vezes nas redes sociais, onde a pessoa vê apenas informações que confirmam suas crenças, sem contato com opiniões diferentes.

Outro risco significativo é o chamado data drift, isto é, a mudança nos padrões dos dados com o tempo. Quando os algoritmos continuam operando com bases desatualizadas ou enviesadas, eles acabam reforçando preconceitos históricos – mesmo quando isso não é intencional. Esse mecanismo pode, por exemplo, prejudicar sistemas de crédito ou direcionar investimentos de maneira injusta, reiterando vieses que já deveriam ter sido superados.

Diante desse cenário, a chave para recuperar a autonomia está na transparência algorítmica. Empresas e órgãos reguladores precisam garantir que os usuários possam entender e questionar os fundamentos por trás das recomendações. Desta forma, ao invés de sermos reféns de um destino digital pré-programado, podemos assumir o protagonismo, direcionando a tecnologia para servir verdadeiramente aos nossos interesses.

Em última análise, a escolha entre aceitar um destino já traçado ou optar por decisões conscientes depende de todos nós. A conscientização, aliada à regulação e à evolução constante das práticas de IA, pode transformar esses sistemas de oráculos silenciosos em ferramentas que empoderam e enriquecem a experiência humana.

*João Lucas Saldanha é Head de Privacidade, Compliance Digital e Governança Algorítmica da Tripla

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