Por Carolina Buriti*

Tempos atrás lembrei de uma história de uma amiga. Ela foi uma das quatro únicas mulheres da classe no curso de Engenharia. Inteligente e dedicada, passou por estágios, formou-se e desde então têm tido oportunidades em sua carreira.
Esta engenheira é uma das poucas que conheço. Aliás, quantas mulheres engenheiras, cientistas, matemáticas e profissionais de TI vocês conhecem? Elas existem, claro, mas sempre em minoria em um universo majoritariamente masculino.
Neste Dia Internacional da Mulher, chamo atenção para como a desigualdade de gênero está presente quando o assunto são profissionais em áreas STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), carreiras essenciais para o desenvolvimento econômico dos países.
Tal disparidade não ocorre por acaso. Desde cedo meninas são impedidas de percorrer o caminho da educação em STEM. Isso porque elas são expostas a uma série de vieses de discriminação, como normas e expectativas culturais e sociais, valores familiares e falta de acesso à educação igualitária, quando já durante o jardim de infância não são tão encorajadas como os meninos a participarem de brincadeiras que envolvam matemática e ciência.
Mesmo em países onde a equiparação de gênero está mais avançada, as profissionais nessas áreas seguem sub-representadas. De acordo com a entidade, mulheres representam apenas 35% das matrículas em carreiras STEM na educação superior no mundo.
Se na base percebemos tantos desafios, podemos concluir que alcançar posições de mais destaque seja quase impossível. Um bom exercício é olhar para as premiadas pelo Nobel ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, apenas 26 mulheres foram laureadas em áreas STEM desde 1901, ano inicial da condecoração.
Ainda que a demanda por talentos nesta Quarta Revolução Industrial seja crescente, as mulheres seguem em minoria. São apenas 28% das formadas em engenharia, 40% das estudantes graduadas em ciências da computação e informática e somente 22% trabalhando com Inteligência Artificial.
Os dados são do estudo: “UNESCO Science Report: the Race against Time for Smarter Development“. O relatório aponta os riscos desta Quarta Revolução Industrial acentuar ainda mais a disparidade entre gêneros.
Afinal, se por um lado temos mais homens liderando a corrida da automatização e digitalização, e por outro, temos grande parte de empregos desaparecendo em decorrência dessa evolução, quais serão os postos que as mulheres ocuparão nesse futuro cada vez mais presente?
Em tempos de “cavalo de pau” em programas de diversidade e inclusão das empresas, muitas delas gigantes da tecnologia, precisaremos cada vez mais de iniciativas para apoiar a inserção de mulheres em áreas STEM.
Entre elas, aponta o relatório da Unesco, ampliar o acesso a fundos de venture capital e alternativas de financiamento para estimular o empreendedorismo feminino, assim como incentivar a carreira das mulheres nessas áreas desde cedo para que exista uma grande quantidade de candidatas qualificadas para bolsas de estudos, prêmios e pesquisas na área – pois elas existem, mas muitas vezes padecem pela falta participantes.
Ter políticas que garantam que às mulheres não sejam sugadas por jornadas de trabalho doméstico e de cuidados não remuneradas e, pelo contrário, consigam dedicar tempo e energia em atividades e pesquisas para avançar no campo STEM também é uma medida proposta pelo relatório. Afinal, como destacado em um de seus capítulos: “Para ser inteligente, a revolução digital precisará ser inclusiva”.
*Carolina Buriti é Jornalista com cerca de 20 anos de atuação na cobertura de saúde, tecnologia da informação e sustentabilidade. Pós-graduada em economia brasileira e globalização, trabalhou em veículos como Saúde Business e IT Forum e colaborou com Uol, Neofeed e Projeto Draft.
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