Se você lesse Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (Lift), você imaginaria algo relacionado à sustentabilidade? Provavelmente sua resposta foi não. E essa seria uma verdade há uns 10 anos. A realidade atual, no entanto, mostra que essa iniciativa do Banco Central (BC) e da Fenasbac recebe cada vez mais projetos que têm sustentabilidade como principal atributo.
As soluções propostas são as mais variadas e vão de projetos para redução de emissões e transição para economia de baixo carbono, passando por financiamento para adaptação, resiliência e justiça climática e chega à preservação de flores e biodiversidade. Como apresentou Danielle Teixeira, líder de inovação aberta da Fenasbac, durante fala no Febraban Tech 2025, em São Paulo, exemplos de projetos selecionados são:
– AgroID, que é um sistema de identidade digital para acesso a serviços financeiros sustentáveis;
– Monitoramento ambiental a partir das abelhas; e
– Finanças digitais para Agroflorestas, que trabalha na integração de créditos de carbono e serviços financeiros para agricultores de cacau, na Bahia.
Danielle lembra que desde 2021 os projetos de sustentabilidade têm crescido e aparecido entre os temas com maior representatividade nas submissões recebidas pelo Lift. Durante a fala, a especialista ressaltou que essa agenda de inovação aberta do BC vem de uma inspiração em um trabalho realizado em 2016 no Reino Unido, quando foi lançado por lá um laboratório de inovação aberta. Na ocasião, era possível criar provas de conceito utilizando as bases de dados da FSA, a autoridade de serviços financeiros daquele país.
“Queríamos conectar o inovador com o regulador e daí surge o Lift Lab, que virou um ecossistema com programas de aceleração, eventos e até publicações”, resume Danielle. A auditora do Banco Central que trabalha inteligência transversal para sustentabilidade, Viviane Torinelli, que acompanhava Danielle na apresentação, reforçou a importância desses projetos em um país como o Brasil, que carrega grande potencial na economia verde, ao mesmo tempo em que enfrenta desafios pelas emissões crescentes.
O protocolo verde dos bancos, lembrou Viviane, vem de 1995, enquanto a resolução sobre crédito rural em bioma amazônico data de 2008. Tudo isso importa, já que o agronegócio responde por 25% do PIB nacional, 25% dos empregos, mas 70% das emissões (que envolvem desmatamento, uso de insumos e outros pontos). “Diferente de outros países onde o controle é na matriz energética, o nosso é o desmatamento”, pontou.
A auditora acredita na tecnologia para auxiliar nessa equação ao comentar o uso de IA, por exemplo, em avaliação de relatórios para entender como está exposição da instituição a risco. Viviane comentou ainda que no programa Technology for The Planet, o Brasil figurou com mais de 60 soluções submetidas e várias delas premiadas. A representante do BC finalizou a apresentação lembrando que estamos em ano de COP 30 e trouxe uma reflexão sobre o histórico da conferência que, de certa maneira, foi criada no Brasil durante a Eco92, no Rio de Janeiro. “Essa COP é verde, vem depois de edições nos Emirados Árabes e no Azerbaijão, é uma COP na Amazônia, no país onde se estabeleceu a COP. Temos de olhar inovação e tecnologia para sustentabilidade, podemos criar algo escalável”, defendeu.
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