Tem muita coisa legal acontecendo no Brasil. E não falo apenas do Centro-Sul do país. É possível ver um dinamismo diferente em Fortaleza, Recife, Salvador. Oportunidades em ESG no Norte e Centro-Oeste. Afora tudo que já é desenvolvido em São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul. No entanto, o País pede mais. Existe uma avalanche transformadora em curso e sem romper com alguns padrões, não inovaremos o suficiente para surfar essas ondas. Coloquei aqui 5 pontos sobre diferentes perspectivas que afetam nossa capacidade de inovar enquanto país e que precisam ser atendidos pelo bem do nosso futuro.

Não cultivamos a criatividade nas escolas

No país do Carnaval, dos publicitários premiados em Cannes e de diversos prêmios relacionados à produção televisiva, a criatividade parece cada vez menos presente nas escolas. Na avaliação do Pisa, maioria dos estudantes brasileiros demonstrou poucas habilidades criativas para resolver problemas sociais e científicos. De 56 países avaliados, ficamos entre os 12 piores. Nossos estudantes apresentavam ideias óbvias e tinham dificuldades em propor mais de uma solução para os problemas. Havia questões como: desenhar poster para feira de ciências e criar título para uma tela de pintura. E pensando em criatividade não como dom, mas como habilidade a ser exercitada, estamos falhando. E falhamos em algo importante para a era da Inteligência Artificial. Tal situação não é recente e o reflexo no mercado de trabalho é visível.

Apostas passadas

Se falta criatividade nas escolas, no cenário econômico não parece ser diferente. Nossa economia (assim como nossas apostas e atenção) estão voltadas para empresas do século passado. Não é dizer que não devamos tratar bem esses segmentos que contribuem muito com o PIB, como mineração, produção de bebidas, a indústria petrolífera, entre outros. O ponto são as mudanças em curso e o risco (grande) de ficarmos presos ao comércio de produtos baratos em setores na iminência de grandes rupturas provocadas por tecnóloga. Nossos políticos são incapazes de pensar País e parte da comunidade empresarial parece não se preocupar muito com o futuro. E, assim, seguimos com nossas apostas num passado em vias de obsolescência.

Manutenção do status quo

Como lembrou a futurista Amy Webb, em recente passagem pelo Brasil, parte dos empresários brasileiros (e de outros países do chamado sul global) investem muito mais em iteration e não em innovation. Isso é dizer: trabalham mais pela manutenção do status quo, querem que as coisas sigam como estão e quase não aportam em inovação de fato. Na visão da futurista, no entanto, tecnologias como inteligência artificial irão romper com essa lógica da forma abrupta, já que quem não se movimenta, superado será. O pensamento vale para qualquer setor da economia. Todo negócio será afetado, não importa o quanto uma liderança possa resistir em mudar. Mas no caso do Brasil e suas apostas em segmentos já antigos, o risco é maior. Por outro lado, as possibilidades são amplas, se soubermos e quisermos aproveitar as oportunidades com IA e outras tecnologias emergentes, sobretudo, conectadas com áreas onde somos relevantes como meio ambiente. 

Ano após ano não avançamos em rankings globais

Tive o privilégio de acompanhar de perto – e até de promover divulgações conjuntas por alguns anos – o Ranking de Competitividade Digital organizado no Brasil pela Fundação Dom Cabral (FDC). Os sinais da nossa deficiência como nação para aproveitar as oportunidades de IA, economia verde e diversas outras tendências estão lá. Em anos recentes, o aumento da presença de mulheres em pesquisa de base ajudou a segurar as posições do Brasil. Um ótimo indicador, mas, sozinho, não suficiente. A falta de formação em áreas estratégicas, por exemplo, persiste. Na edição de 2023, o Brasil voltou a cair, perdeu 5 posições. Seguimos bem em investimento público em educação, presença feminina em pesquisa e produtividade em P&D. Mas fomos mal em habilidades tecnológicas e gestão das cidades para apoiar desenvolvimento, por exemplo. 

Ainda nesta seara, no Ranking Mundial de Competitividade 2024, localmente também organizado pela FDC e globalmente pelo IMD, perdemos posições e estamos entre os 6 piores, ocupando a posição de número 62. Entre os pontos positivos do país no ranking estão: crescimento de emprego no longo prazo, crescimento do PIB per capta e energias renováveis. No lado negativo, por sua vez, estão: educação em gestão, habilidades linguísticas, dívida corporativa, habilidades financeiras e educação básica, secundária e universitária.

País do Futuro?

Talvez essa antiga expressão de que somos um país do futuro tenha chegado à sua exaustão, mas, talvez, se setor público, setor privado, academia e sociedade civil souberem aproveitar as oportunidades que estão à mesa, essa expressão volte a fazer sentido. Só para citar, em ESG, sobretudo na letrinha E, temos oportunidades imensas e já tem muita gente fazendo coisa boa por aqui, passível de exportação. Assim como inovamos no passado com o agro e ele se tornou esse elemento fundamental da nossa economia, meio ambiente, energia renovável e tudo que está embutido nesses pilares podem destravar muitas oportunidades para o Brasil. Em IA, pese o medo existente, tem muita gente talentosa e com capacidade de aproveitar essa onda. Aqui, no entanto, ainda temos de correr para superar nossa defasagem em habilidades humanas, necessárias para manter a relevância da pessoa no contexto de IA, ao mesmo tempo em que precisamos de mais gente sabendo manusear a tecnologia para produzirmos plataformas, serviços de excelência e novos modelos de negócio. E, assim, voltamos ao início do post: nossa base educacional e o acesso ao conhecimento de qualidade. 

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