Grazielle Cestarolli Ortega, Rede de Colégios Santa Marcelina

Os impactos da tecnologia na educação são estudados há tempos. O assunto ganhou força nos últimos cinco anos devido ao avanço das inteligências artificiais, sobretudo, com o advento da IA generativa. Dados de um estudo realizado pela McKinsey em 2020, por exemplo, já mostravam que de 20% a 40% das horas dos professores são gastas em atividades que poderiam ter sido automatizadas. Ainda que o acesso às tecnologias seja desigual entre as regiões do País e também na comparação entre redes pública e privada, é consenso que, quando bem aplicadas, as mais diversas soluções trazem benefícios diversos, que vão da melhor gestão da escola à personalização do ensino.

Mas quando falamos de melhorar a qualidade do ensino ou mesmo trabalhar na orientação educacional mais individualizada, não necessariamente a escola precisa investir milhões ou adquirir as tecnologias mais avançadas. Um bom sistema de gestão e um trabalho adequado com dados como: notas, faltas, ocorrências, entre outros, é suficiente para avançar e colher resultados com os alunos. 

Um exemplo prático disso vem da Rede de Colégios Santa Marcelina. A instituição conta com plataforma de gestão que traz relatório individualizado de cada aluno e, com esse material em mãos, é feita uma atuação de orientação educacional. Além disso, como explicou Graziele C. Ortega, coordenadora de projetos educacionais da Rede, a gestão da aprendizagem conta com outros recursos.

“Uma frente é comportamental, socioemocional, rotinas de estudo, se tem dificuldade pessoal ou de relacionamento no próprio colégio e como isso impacta o desenvolvimento estudantil. Temos uma equipe que atua nessa frente. A outra, é a de gestão de aprendizagem. O que temos nessa frente: simulados, diagnósticos que são aplicados e medem o nível de aprendizagem em relação as habilidades que ele deveria ter naquele momento”, detalhou a especialista.

Os simulados são variados e mensuram desde o conhecimento em inglês, se está dentro ou fora do esperado, além de acompanhar o aluno durante toda a vida escolar e entender a absorção de conhecimento. No ensino médio, por exemplo, todos os anos são aplicados simulados no mesmo modelo do Enem, além de quatro simulados focados exclusivamente em redação, entre outros exames. Tudo isso, além do dia a dia escolar, gera dados que, analisados, permitem à escola agir e auxiliar o aluno em qualquer dificuldade. 

É possível entender, entre outros pontos, se a nota média 8 da turma A foi puxada para baixo por 3 ou 4 estudantes com baixo desempenho e trabalhar as dificuldades desses alunos. Isso evita rever os mesmos temas com alunos que já não precisam de qualquer reforço nele. “Conseguimos atuar no micro com os estudantes. No caso do ensino médio, consigo trabalhar questões com grande volume de erros, abrir discussão em sala e usar o material que a própria plataforma do simulado fornece como subsídio.”

Uma das preocupações com o uso da tecnologia e esse trabalho individualizado é a privacidade dos alunos, o que Graziele entende ser algo que a escola toma bastante cuidado. O trabalho é feito, como diz a coordenadora, corpo a corpo. “Quando entendemos que há dificuldade, seja ela específica ou emocional, entendemos o cenário e oferecemos opções como grupos de estudos, por exemplo, mas o estudante tem autonomia, não é uma convocação.”

O sistema atual de simulados está em uso pela rede de colégios desde 2022 e a escola não utiliza como métrica de sucesso, pelo menos por ora, aumento na aprovação em vestibulares. A especialista, no entanto, afirma que esse acompanhamento a partir da gestão por dados já tem forte impacto na melhora da produção textual, pelo exercício frequente e a ampliação de repertório. “(As redações) têm um formato a ser seguido e quando se trabalha essa receita, aperfeiçoa a entrega. Temos muitos projetos ligados a temas socioemocional, meio ambiente, ODS da ONU e sempre cai nos grandes vestibulares. Tem uma melhoria crescente visível no rendimento de redação, no simulado não é uma curva tão ascendente, mas se comparo 2024 com 2022, também melhorou.”

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