
Pela primeira vez na América Latina, o World Circular Economy Forum (WCEF) acontece nesta semana em São Paulo. Lideranças empresariais, governamentais e da sociedade civil debatem soluções em busca de uma transição econômica onde se troca a produção linear pela circular. O tema ganha relevância dado o cenário de crise climática, alta demanda por minerais críticos e alto consumo de energia diante do avanço de tecnologias como inteligência artificial. Dar conta do desafio, no entanto, pede uma ação mais coletiva, como lembrou a ex-presidente da Finlândia, Tarja Halonen.
“É preciso cooperação política e compartilhamento de boas práticas de negócio. Estamos convencidos de que parcerias são importantes e necessárias (na circularidade). Reduzir, reusar e reciclar. Esses erres precisam estar em sua cabeça, mas sobretudo o reciclar”, comentou Tarja na abertura do evento. “Economia circular não é só um problema ambiental, é uma ferramenta para inclusão social e justiça, traz soluções para resiliência de nossa sociedade”, completou.
A resiliência da sociedade mencionada pela ex-presidente finlandesa está associada ao momento complexo que o mundo vive, com fome, conflitos, epidemias, eventos climáticos mais frequentes e uma geopolítica complexa. Para Tarja, a economia circular pode ajudar a reduzir essa pressão e estabelecer a resiliência necessária. Ela afirma ainda que, nesse contexto, democracia e governança se mostram fundamentais. “Precisamos de todo nosso capital humano para pensar um futuro e deixar algo para futuras gerações.”
Mais ação, menos palavras
A Agenda 2030 e todos os objetivos de sustentabilidade da ONU, reforçou Tarja, pede cooperação global, com parcerias entre governos, academia, sociedade civil e empresas. Na mesma linha de raciocínio, Kristo Lehtonen, diretor de programas internacionais da Sitra, fundo de inovação finlandês responsável por organizar o evento, afirmou que vivemos o momento mais propício para implantar essa agenda de transição para circularidade.
“Por que é mais importante agora que nunca? Dados digitais são valiosos e junto com inteligência artificial estão redefinindo a economia e podem representar oportunidade para economia circular. Junto com blockchain, é possível ter mais transparência, rastreabilidade e inteligência”, explicou, ao lembrar que precisamos ter em mente o velho e bom ‘fazer mais com menos’ além de garantir que produtos tenham ciclo de vida maior.
O executivo também reconheceu que falar de sustentabilidade, principalmente quando envolve exploração de minerais críticos, se converteu em agenda de segurança nacional. Ele exemplificou com o próprio movimento de várias empresas que incluíram sustentabilidade em suas estratégias para evitar problemas com pandemias, geopolítica, eventos climáticos e até a fragilidade da cadeia de suprimento global.
Atualmente, grandes fabricantes de baterias para alimentar veículos elétricos, produtoras de processadores de alta complexidade para IA, além de diversas ações de transição energética demandam tais minerais, mas explorá-los sem uma cabeça voltada à circularidade pode representar um grande risco, já que são materiais finitos. Para convencer essa mudança de mentalidade, Lehtone aposta no que ele chama de potencial da economia circular. “Ela pode criar milhões de empregos, promover crescimento, mas precisamos de mais ações e menos palavras”, resumiu Lehtonen.
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