Deep Tech Meetup

O Governo de São Paulo, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, promoveu o Deep Tech Meetup durante a agenda da São Paulo Tech Week. O debate sobre como transformar ciência em negócio abordou falta de infraestrutura, dificuldade de acesso a mercado mas também trouxe caminhos de quem decidiu empreender a partir da ciência.

O Brasil forma bons pesquisadores e tem produção científica relevante, mas transformar descobertas em viabilidade comercial ainda é um gargalo forte. ​Marcus Leite, consultor de inovação e empreendedorismo do Sebrae-SP, lembrou que além do TRL (nível de prontidão tecnológica), é preciso considerar a maturidade comercial e a de manufatura. A dificuldade não é só científica: é também industrial.

Segundo ele, muitos projetos esbarram na falta de infraestrutura robusta. “Dependendo da indústria que você for trabalhar, é difícil você produzir isso aqui no Brasil, porque a gente não tem laboratórios e equipamentos com volume e envergadura suficiente para fazer uma produção em escala”, alertou. Apesar de instrumentos previstos em lei, como o voucher tecnológico, o uso ainda é baixo e reflete um ecossistema que carece de estímulo e conexão entre academia, indústria e governo.

A ponte ciência-mercado

Outro desafio foi apontado por ​Douglas Veronez, representante da Emerge: todos os integrantes do ecossistema falarem a mesma “língua”. “A indústria tem uma métrica, a universidade tem uma métrica e startup está tentando se tornar uma empresa, uma indústria. E o governo tem uma outra métrica. Para o pesquisador muitas vezes um avanço científico é inovador, mas para a indústria, para as empresas, não. Então, como que a gente faz esse nivelamento?” destacou, pois muitos cientistas querem ver suas descobertas aplicadas, mas não sabem como se aproximar do mercado.

​Cristianne Bertolami, CEO da WeCare Skin, trouxe um alerta sobre como a obsessão pela tecnologia pode ser uma armadilha. Ela defende que o pesquisador precisa se apaixonar pela dor do cliente, não pela sua descoberta, uma vez que o mercado não compra pesquisa, compra uma solução. Parcerias com universidades, hospitais e grandes empresas são um caminho para reduzir riscos e encurtar o distanciamento entre pesquisa e mercado.

Ecossistema e tempo de maturação

A falta de um ecossistema maduro para estimular deep techs no Brasil foi um ponto levantado por Plinio Targa, CEO da Brain4Care. Deep techs são modelos que demandam anos de pesquisa e altos investimentos. “Custa caro fazer pesquisa, leva tempo e você não sabe exatamente aonde você vai chegar. Do ponto de vista da ciência é um avanço você falar que uma rota não é válida, é cientificamente válido. Do ponto de vista de negócio, é um desastre”, apontou.

Ele também destacou outro obstáculo: o tempo de adoção pelo mercado. Principalmente em deep techs na área da saúde, é preciso esperar que médicos, indústrias, órgãos públicos, entendam o valor daquela tecnologia. Targa também trouxe uma percepção que as entidades que olham saúde pública com impacto populacional tendem a perceber mais valor nas aplicações antes do privado.

Os especialistas indicam que a pesquisa, sozinha, corre o risco de virar apenas uma patente esquecida. Para uma invenção virar negócio as conexões são fundamentais, assim como um ecossistema atuante. Leite lembrou que o Sebrae-SP e a FAPESP tem uma inciativa voltada para deep techs: “a FAPESP financia a parte de pesquisa e o Sebrae financia o acesso ao mercado. O dinheiro do Sebrae que a gente complementa é para trazer uma pessoa de negócios, tudo que for te ajudar a vender”.

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