A discussões sobre grandes desafios da sociedade têm ganhado novos contornos com o crescente uso de tecnologias emergentes. Em meio a tantos problemas, saúde é um tópico de atenção que parece ser quase consensual. Primeiro por ser uma necessidade de primeira ordem, um direito de todos (mas que nem todos acessam), e por entender que já existe maturidade tecnológica para apoiar em redução de filas, velocidade de diagnóstico, otimização de investimento por uso de dados, entre outros.
Além de ser um problema crítico, existe uma série de casos de sucesso a que tivemos acesso e que nos levam a pensar: por que não fazemos mais? Por que não conseguimos resolver determinadas questões na saúde pública, mesmo com tantos recursos? O primeiro deles foi durante o Curso de Jornalismo em Saúde, promovido pelo Grupo Fleury . Como apresentou Andrea Marçon Bocabello, diretora de inovação do Fleury, o laboratório tem investido forte na aplicação de inteligência artificial em diversas frentes, mas para citar apenas uma, existe uma solução que aplica inteligência artificial em ressonância magnética. Tal mecanismo reduz em 50% o tempo do exame.
Além de ajudar muito quem sofre com aquela máquina, como eu mesmo, ele otimiza o equipamento e permite que um volume maior de pessoas seja atendido em um mesmo dia. Imagine isso aplicado em equipamentos da cidade de São Paulo. Que o aumento de pessoas atendidas seja em 30% diariamente, já é um ganho gigantesco para uma população que espera muitas vezes por mais de um ano para um exame de alta complexidade.
O segundo exemplo, também apresentado durante o curso do Fleury, foi levado por Eco Moliterno, Chief Creative Officer da Accenture Song. Ao explorar o estado da IA, o executivo trouxe alguns casos de uso nos EUA e um me chamou atenção: uma seguradora, com dados reais, cria pacientes virtuais para simular e melhorar atendimento. Imaginem isso, em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador. Além de melhorar o atendimento, tal análise serviria para otimizar investimento, realocar equipamentos e até atuar por áreas de maior ou menor incidência de determinadas enfermidades. É muito comum em São Paulo uma pessoa morar no extremo leste da cidade e ter de fazer um exame ou passar por consulta na zona sul, geralmente, tomando o dia inteiro da pessoa entre o procedimento e tempo no transporte público. E, pensando bem, com boa vontade e dados organizados, um bom sistema de analytics já ajudaria muito nesse sentido.
Por fim, um terceiro exemplo acessamos durante o Cubo Conecta, num painel moderado pelo CEO da Oracle no Brasil, Alexandre Maioral. Trata-se da Sofya, bem resumidamente, é um médico assistente provido por inteligência artificial. Como explicou a fundadora e CMO da startup, Aline Froes, “queremos escalar a capacidade de médico sênior. Saúde é direito de todos, mas na prática não acontece. Nos próximos anos, queremos um sistema que leia prontuários, compreenda, faça raio-X da população e identifica grupos preocupantes, urgentes, que atue na prevenção, isso gera ganho em cadeia. Paciente tem atendimento mais ágil e médico tem apoio cognitivo.”
Aline compartilhou que um médico levaria em média 26 horas para seguir um protocolo correto completo com 1 paciente. Esse tempo não existe e o que sobra são casos de brunout, nas saúdes pública e privada. “Esse número mostra a ineficiência do processo. 63% dos médicos apresentam sintomas de burnout. É preocupante que a classe que cura esteja doente. Erro médico é terceira causa de morte nos EUA. Média de 800 mil mortes ano”, pontuou a executiva.
De novo, imaginem essa plataforma em cidades com poucos recursos, normalmente sem presença de especialistas. Um clínico geral poderia contar com esse apoio e acelerar o diagnóstico, muitas vezes sem precisar colocar uma pessoa em uma fila para ter uma consulta em outra cidade. E mesmo nas capitais, existe um ganho imenso de eficiência e melhoria na prestação de serviço. Para grandes desafios como esse, o coletivo precisa prevalecer e a ação precisa contar com trabalho conjunto entre governo, empresas, academia e sociedade civil.
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