
Por Clarissa Mathias*
A presença da IA em diversas sessões da edição 2025 do congresso ASCO, maior evento mundial de oncologia, em Chicago, reforçou o debate sobre o tema e destacou o quanto essa tecnologia já está inserida na rotina dos oncologistas do mundo todo. Percebemos que a IA está presente em todas as etapas do cuidado oncológico, desde o diagnóstico, que ficou mais preciso e mais rápido, até o apoio na tomada de decisão terapêutica e na aceleração de ensaios clínicos. A sua aplicabilidade já vai muito além da simples análise de imagens ou da dosimetria em radioterapia. A tecnologia é capaz de identificar padrões em grandes volumes de dados que seriam imperceptíveis ao olho humano.
Um estudo apresentado na ASCO mostrou que a IA pode reduzir significativamente erros na classificação de subtipos tumorais, o que abre portas para novas opções de tratamento. A ferramenta demonstrou uma precisão 22% maior no diagnóstico de tumores de mama HER2-baixo e HER2-ultrabaixo, relacionados à proteína HER2 (Human Epidermal Growth Factor Receptor 2), presente na superfície das células mamárias e envolvida no crescimento celular. Em alguns casos de câncer de mama, o gene que produz essa proteína está amplificado, levando à sua superprodução nas células tumorais. E identificar esse tipo de tumor é crucial, pois permite novas possibilidades de tratamento para muitos pacientes que antes não tinham acesso a terapias-alvo contra o HER2.
O equilíbrio entre humano e a tecnologia
Diante do cenário em que a tecnologia é aliada à medicina e a relação se torna fundamental e complementar, colocamos o paciente no centro do tratamento, unindo o atendimento humanizado – emoções, medos, esperanças e valores – com o olhar preciso da ferramenta. A sessão ASCO Voices, foi um verdadeiro convite à escuta, e à expansão do nosso conceito de cuidado oncológico. Longe dos gráficos e dos resultados estatísticos, a proposta foi valorizar as narrativas pessoais que revelam os desafios, dilemas e transformações vividas por pacientes, cuidadores e profissionais da saúde ao longo da jornada, reforçando a importância da humanização do tratamento. Para mim, que enxergo a espiritualidade como parte essencial na jornada, foi um dos momentos que concentrei e refleti que a tecnologia não substituirá o cuidado médico.
Entender que o cuidado integral inclui acolher as crenças, os valores e as dimensões subjetivas do paciente e as evoluções, não enfraquece a medicina; pelo contrário, a fortalece com compaixão.
*Clarissa Mathias, oncologista líder do Cancer Center Oncoclínicas e Hospital Santa Izabel, em Salvador, e membro do conselho da ASCO
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