
O Brasil está entre os países que mais produzem resíduo eletrônico, cerca de 2,5 toneladas por ano. Somado a isso, está o fato de o país ter baixas taxas de destinação correta desse tipo de equipamento. E quando falamos de resíduos eletrônicos, além dos componentes metálicos, tem muito plástico. De olho na crescente discussão em torno da redução do uso de plásticos, diversas empresas têm revisitado suas estratégias e desenho de produtos para reduzir o impacto ambiental. Muitas delas, inclusive, se unem ao movimento global “Julho sem Plástico”, como é o caso da Voke, conhecida por sua oferta de outsourcing de equipamentos de tecnologia, mas que, cada vez mais, se mostra como uma companhia focada na economia circular e no consumo consciente de tecnologia.
Esse posicionamento, como afirma o co-CEO da empresa, Rene Almeida, vem de 2019, quando a companhia (ainda sob o nome de Agasus) percebeu uma peculiaridade em sua oferta: eles locavam os equipamentos e, ao final do contrato, recebiam os dispositivos de volta e muito era descartado ou vendido para carroceiros, algo, nas palavras do executivo, rudimentar. A companhia enxergou ali uma oportunidade que ataca três frentes: sustentabilidade, rentabilidade com equipamentos usados e inclusão digital daqueles que não têm condições de comprar máquinas novas, sejam estudantes, profissionais liberais ou mesmo empresas de pequeno porte.
A empresa comprou uma companhia focada em reforma de equipamento e passou a promover o debate do locar equipamento em vez de comprar máquinas novas, além da própria oferta do seminovo com garantia e rastreabilidade. As máquinas, quando devolvidas pelos clientes de locação passam por higienização, formatação em linha com a LGPD, além atualizações necessárias. É um grande processo de recondicionamento. Tudo isso como um contraponto a cultura do consumo excessivo de equipamentos tecnológicos.
“Damos seis meses de garantia, tem rastreabilidade e temos computadores de excelentes marcas como Dell, Lenovo, Samsung, Apple. É uma oferta de economia circular para a sociedade. A vida útil do computador que era de 4 a 5 anos, após o recondicionamento, consigo estender pelo menos mais 4 anos, falamos de vida útil que pode chegar a 11 anos”, detalhou.
Descarte correto
O esforço de economia circular com recondicionamento das máquinas, além do descarte correto de materiais que já não podem ser reaproveitados em uma máquina seminova, fez com que a empresa reduzisse em 35% a geração de resíduos eletrônicos. “Esse número é reflexo de uma somatória de iniciativas. Um porcentual pequeno de máquinas está em situação que não dá para trabalhar, porque caiu, quebrou e, nesses casos, separamos as peças, como placa mãe, memória e utilizamos em outras máquinas, o que sobra é a carcaça e itens que não têm uso e vão para reciclagem.”
Parte do sucesso do recondicionamento e de poder elevar a vida útil das máquinas está na qualidade dos equipamentos locados. Sendo máquinas corporativas, a durabilidade já é maior que a de um usuário residencial. Além disso, os próprios fabricantes veem ações como essas com bons olhos, na visão de Almeida, já que algumas delas também oferecem conserto de laptops, por exemplo, e advogam pelo descarte correto. Pesa ainda no apoio o fato de a venda de equipamento usado não concorrer com as grandes fabricantes. Entre os principais clientes dos equipamentos recondicionados da Voke estão motoristas de Uber, motoboys, estudantes e pequenos empreendedores que não têm orçamento para máquinas novas.
Reconhecendo que o problema de resíduos eletrônicos e plásticos ultrapassa a fronteira das empresas, a Voke também laçou um programa chamado Descartech, para que o público geral possa descartar usados e lixo eletrônico em pontos como os quiosques de venda que a empresa possui em shoppings. Em troca, o consumidor ganha um voucher para compra de um recondicionado. O projeto teve início em março de 2025.

“Temos uma situação no Brasil: milhões de equipamentos parados nas gavetas. É muita coisa e isso pode ir parar no fundo de um rio, em um aterro, que não é ideal. Queremos que pessoas se conscientizem, levem isso a um lugar apropriado e, com o cupom, possa fazer atualização tecnológica”, comentou o co-CEO da Voke.
Julho sem plástico
Existem diversas iniciativas para fazer o descarte correto, um exemplo, além do projeto da Voke, é o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), liderado pelo Laboratório de Sustentabilidade (LASSU-USP), que fica dentro da Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da Capital Paulista, e é aberto ao público. Mas, como lembra Almeida, existe o desafio da comunicação e do entendimento do que pode ser feito com o dispositivo.
Se do lado empresarial existem ações e uma valorização dos grandes clientes de empresas de hardware e terceirização de equipamentos, que veem nisso uma possibilidade de reduzirem suas pegadas ambientais, do outro, quando falamos da comunidade como um todo, é preciso ampliar a consciência e reduzir o grau de desconhecimento, seja do dano ambiental, seja de como descartar corretamente esses dispositivos.
Ações como o movimento “Julho sem Plástico”, por exemplo, ainda pouco conhecido no Brasil, pode ir nessa direção, afirma Rene Almeida, que trabalha, via Voke, para que a campanha decole por aqui.
O “Julho sem Plástico” é uma iniciativa com origem na Austrália, em 2011, e tem como principal objetivo reduzir o uso de plástico descartável durante o mês de julho. Com isso, existe um incentivo à conscientização sobre a poluição plástica, além da promoção de alternativas sustentáveis. No site da organização que promove a campanha, eles falam em mais de 100 milhões de pessoas inspiradas em mais de 190 países. Embora a campanha tenha um foco maior em itens como canudos, copos, sacolas e utensílios como talheres, é importante ampliar para plásticos como aqueles adotados em equipamentos eletrônicos que também podem poluir e gerar problemas sem o descarte correto.
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