
O índice de circularidade apurado pelo Global Circularity Gap Report 2025 apontou nova queda. De acordo com o levantamento, de todo material que entra na economia global, apenas 6,9% são secundários. Na edição 2024 do relatório, o porcentual era de 7,2%. O indicador é preocupante dado o avanço da crise climática e do alto apetite pela extração de minerais críticos, seja para uso em tecnologia, eletrificação da frota de veículos, entre outros.
Outra informação trazida pelo relatório que impressiona é a quantidade de materiais extraídos da natureza anualmente. Como sociedade, ultrapassamos 100 bilhões de toneladas de extração por ano em 2024. Nesse ritmo, essa extração deve atingir, em 2060, volume 60% superior tendo como base 2020. De acordo com o estudo, se todo material passível de reciclagem fosse reciclado, o índice de circularidade saltaria de 6,9% para 25%. No entanto, o custo para reciclar alguns desses materiais é impeditivo, por isso, o alerta de especialistas vai em duas direções: ampliar práticas circulares e reduzir o extrativismo.
Em recente conversa com jornalistas, o diretor de programas do fundo finlandês de inovação Sitra, Kari Herlevi, ressaltou que a taxa de circularidade no mundo caiu 21% nos últimos 5 anos. “Trata-se de uma grande queda em um momento de emergência climática”, afirmou o executivo. “Economia circular é uma questão de segurança e resiliência, tivemos diversas crises no ano passado e a economia circular pode contribuir em muitas frentes.”
Os dados do relatório foram apresentados em São Paulo, durante o World Circular Economy Forum 2025 (WECF), evento que reúne especialistas de empresas, governos, instituições sem fins lucrativos, sociedade civil e academia. Além de trazer informações sobre o estudo, a organização promoveu uma conversa com executivos para demonstrar a necessidade de se adotar práticas circulares rapidamente.
Cecília Dall’Acqua, sócia e líder do hub Global de Economia Circular da Deloitte, reconheceu o cenário, lembrou que há muito a ser feito, mas que existe espaço e um desejo de consumidores de se engajarem com empresas comprometidas com a sustentabilidade. “Os números não são bons. Para empresas é uma mudança sistêmica e isso pede outro mindset, repensar produtos, a forma de produzir, materiais usados, relação com fornecedores, como será vendido e como vai engajar clientes. Quando a empresa quer implementar isso, precisa incluir circularidade no processo, na estratégia e na cultua”, detalhou a executiva.
Quem também reconheceu o problema foi Christian Spano, diretor de circularidade na Vale Base Metals. Como é de conhecimento geral, mineração é um tipo de negócio de alto impacto e práticas circulares têm sido aplicadas no sentido de repensar o extrativismo, além de reutilizar não apenas os minerais após seu processamento, mas também os dejetos. “O relatório desse ano é game changer. Eu não trabalho com este tema porque é legal, mas porque a economia global demanda uma quantidade imensa de minerais e temos de pensar em como atender”, pontuou Spano, ao lembrar: “a Vale tem circularidade como negócio. É fantástico responder sobre circularidade, explicar como extrair materiais da natureza e, ao mesmo tempo, ser regenerativo. Mas tente levar essa mensagem para modelos lineares.”
Para Cecília, não há outro caminho para empresas a não ser a inovação na forma de pensar produto, além de desmistificar a questão da qualidade. Ela explica que, atualmente, existem produtos reciclados com qualidade superior àqueles produzidos com matéria prima virgem. A executiva acredita, no entanto, que falta uma divulgação mais ampla de bons casos. “Circularidade reduz carbono e gera muito valor ao negócio.”
Acesse o Global Circularity Gap Report 2025, em inglês, aqui.
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