Marcela Martins, diretora de gestão energética da Ascenty

Por Marcela Martins*

Até o ano de 2030, o mundo aumentará um yottabyte de dados todos os anos – essa unidade ainda pouco conhecida, mas que logo deve se tornar popular, é equivalente a 1 trilhão de gigabytes. Uma enorme quantidade de dados que vai estar voltada para uso de Inteligência Artificial, big data e outras tecnologias complexas que demandam tráfego e, consequentemente, armazenamento grande de informações. 

Para que os data centers possam armazenar todos esses dados, é necessário capacidade energética adequada e, no Brasil, temos uma grande vantagem nesse sentido: energia abundante de fontes limpas e renováveis ao nosso dispor. Além disso, há crédito de carbono em grande quantidade, afinal, com uma emissão média de apenas 20 g CO2 eq/kWh, a matriz brasileira se destaca como uma das menos poluentes do mundo.

O que não significa, no entanto, que nós possamos nos aproveitar disso sem nos preocuparmos com o futuro. Muito pelo contrário, afinal, estamos olhando para o restante do mundo e vendo que a requisição por energia só cresce em diversos países por conta do avanço tecnológico e que a conta não está fechando. No Brasil também há previsões neste sentido, afinal, o Ministério de Minas e Energia (MME) aponta que a demanda por projetos de data center deve chegar a 9 GW até 2035. 

Se antes um data center operava com 7Mw, esta capacidade passa a ser de 150Mw, com o uso de IA. Na prática, uma demanda de 70Mw equivale ao consumo de uma cidade de 100 mil habitantes. São volumes muito grandes para a distribuidora de energia disponibilizar de uma só vez, em um único ponto. Portanto, é necessário montar novos arranjos, para suportar esse crescimento, sendo que a disponibilidade pode levar mais de um ano no processo regulatório.

Acredito que, mais do que estarmos atentos a isso, precisamos agir em prol da alta eficiência energética. Estamos em um momento de profunda transformação na indústria de TI. E, embora a nossa capacidade energética cresça ano a ano e ela venha majoritariamente de fontes renováveis, cabe às empresas de data centers cuidarem para que, desde a construção, exista um uso consciente das fontes de energia – já que, apesar de renováveis, elas podem chegar ao seu limite.

A gestão de energia nos data centers pode ser aprimorada. A implantação de sistemas de gerenciamento de energia inteligentes, que monitoram e ajustam automaticamente o consumo com base na necessidade e na eficiência energética dos equipamentos, otimizam o uso de energia nos data centers. 

Cabe também às empresas de data centers entrarem no mercado livre de energia e buscarem fornecedores que estejam em linha com seus valores. Assim, quando os clientes forem armazenar suas informações nestes grandes centros de dados, elas terão a certeza de que estão contribuindo para uma cadeia ampla e preocupada em suprir os maiores desafios de eficiência energética atuais do Brasil, que operam com o mínimo consumo possível. 

Tenho convicção de que os data center são essenciais para o mundo hoje, mas precisamos cuidar para que o consumo de energia não seja excessivo e também para que a agenda de sustentabilidade seja respeitada e valorizada. Somente assim iremos preservar nossas fontes e poderemos manter os data centers operando com todo o seu potencial, capacidade e disponibilidade.

*Marcela Martins é diretora de gestão energética da Ascenty, uma empresa Digital Realty e Brookfield com 34 data centers em operação e/ou construção no Brasil, Chile, México e Colômbia, interconectados por 5.000 km de rede de fibra óptica proprietária.

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